No final da década de 1950, em meio ao caráter liberal que o Brasil vivia com a promulgação da Carta Constitucional de 1946, o Ipu passou a ter uma divisão política, caracterizada por um bipartidarismo que continuaria com suas ramificações até o início do século XX. Foi nesse cenário que surgiram as alas políticas a qual denominamos de Morais e a Rochista.
O grupo Morais - chamamos assim por ter o Padre Francisco Ferreira de Morais como o líder maior - em sua gênese, se estruturou na década de 1920 na fase da Primeira República brasileira e teve, nas décadas subsequentes, como líderes maiores Felix Martins, Abdoral Timbó, Joaquim Lima, Abdias de Sousa Torres, Oscar Coelho, Dr. José Lourenço de Araújo Corrêa, Zeferino de Castro e Antonio Pereira de Farias. Nos anos 70, 80 e 90 do século passado, esse grupo teve a liderança do Padre Morais, Milton Pereira e Flávio Mororó, sendo o sacerdote católico a referência maior nas composições para os pleitos municipais.
Os Rochistas, chamados assim por terem o médico Francisco Rocha Aguiar como principal líder, surgiram nos anos 50. Esse grupo partidário, a qual teve também como membros expressivos, Antônio Martins de Carvalho, Antônio Ximenes Veras, Augusto José de Aragão e Antônio Olímpio, surgiu em meio a uma composição mais complexa do cenário urbano-político de Ipu, influenciado pelos ventos liberais da política nacional, agora com um reinante pluripartidarismo (UDN, PSD PSP e PTB) também observado nas mudanças na sociedade da Terra de Iracema, onde setores populares de feição predominantemente urbana, almejavam mudanças políticas em suas cidades. Isso foi lugar-comum em cidades interioranas de grande e médio porte, onde o Ipu se insere.
A cidade de Ipu crescia e, conforme o Censo de 1950, possuía 37.242 habitantes. Nesse cenário, o comércio se expandia, jornais circulavam na cidade, o número de bairros aumentava e os Clubes Grêmio Recreativo Ipuense e Clube Artístico Ipuense capitaneavam a agenda cultural e festiva da sociedade ipuense. O ensino escolar, por sua vez, se consolidava como referência na região com a inauguração do Patronato Sousa Carvalho em 1951. Enquanto isso, apesar de o voto ainda ser privilégio de pessoas teoricamente alfabetizadas, estavam os munícipes desejosos em promover uma maior participação dos setores subalternos na vida política da cidade, dominada monoliticamente pelos chefetes ligados à agricultura e ao comércio local.
O líder político Antonio Martins de Carvalho, apesar de oriundo do setor aristocrático, tinha identificação forte com os setores populares. Antonio Martinszão como era chamado por muitos, era grande motivador de eventos esportivos e culturais da cidade. Dr. Rocha Aguiar era médico da Fundação Nacional de Saúde (Antiga SUCAM) e chegou nos anos 50, oriundo de Camocim onde sua família há muito militava na política local. Ambos uniram suas forças. Perderam as primeiras eleições que disputaram em 1958 e 1962, mas o Dr. Rocha Aguiar chegaria ao poder em 1966, sendo eleito pelo partido da ARENA com 3.166 contra 2.516 do seu adversário Francisco Torres Veras (Chico Macarrão). Seu grupo ficaria no poder até 1976, quando a sua esposa e prefeita Antonieta Rocha Aguiar passaria o poder de volta para a ala Morais com a eleição de Antônio Milton Pereira. Em 1982, o Dr. Rocha Aguiar, tendo como vice Maurício Xerez, tentou voltar ao poder, mas foi derrotado por Flávio Mororó e Vladimir Mourão.
O grupo Rochista passaria por uma renovação, se projetando como possível nova liderança o Engenheiro Agrônomo Iran Belém Rocha. O doutor Iran era casado com Cristina, filha do Dr. Rocha Aguiar. Figura carismática e de forte vocação política, Iran acabou tendo sua vida brutalmente ceifada em 1983, abreviando sua promissora carreira política na Terra de Iracema. Em 1988, o empresário José Carlos Sobrinho, o Zezé, se tornaria o herdeiro oficial do Rochismo quando se candidatou à prefeito de Ipu, dando assim continuidade a uma das correntes do histórico dualismo partidário de Ipu.
