quarta-feira, junho 24, 2015

Interpretações - O QUE HÁ POR TRÁS DAS CRÍTICAS DE LULA A DILMA E AO PT?

Brasil, Brasília, DF. 07/05/2009. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cerimônia de formatura de diplomatas do Instituto Rio Branco, em Brasília. - Crédito:BETO BARATA/AGÊNCIA ESTADO/AE/Código imagem:49826
Entre o discurso de Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, exaltando as conquistas da legenda, e as duras críticas feitas nesta segunda-feira, 22, há uma pesquisa de opinião. O cientista político e especialista em PT, Rudá Ricci, vê o levantamento, que mostra o ex-presidente atrás de Aécio Neves (PSDB) em uma eventual disputa pelo Planalto, como o principal motivo para a radicalização do discurso de Lula.
“Lula já estava sofrendo desgaste em função do PT e do governo, mas lento. A pesquisa mostrou que agora está corrosivo”, avalia Rudá Ricci, que foi integrante do PT até 1993.

Na visão de Ricci, o PT vive uma encruzilhada por contrariar sua história. Lula, percebendo a situação e prevendo dificuldades para a recuperação política e econômica, estaria tentando se descolar do governo e do partido.
Ontem, em evento promovido por seu Instituto, Lula criticou duramente o PT e sua burocracia, acusou correligionários de pensarem apenas em cargos e resistirem à mudança interna. “A questão é que foi ele quem colocou o PT nessa estrada”, diz o especialista.

As críticas ao PT, na opinião do cientista, são propositalmente genéricas. Lula fala do envelhecimento, do apego aos cargos, mas Ricci destaca que o petista não aponta a saída. Para ele, Lula teria dificuldades, depois do que fez em seus 8 anos, de defender abertamente, por exemplo, uma mudança no governo pela taxação de grandes fortunas.
“O Lula tenta criar uma manobra discursiva para, possivelmente, resvalando no populismo, caminhar para dizer ao eleitor que ele não é a Dilma”, analisa Rudá. A manobra, na avaliação do cientista, é arriscada. “Só uma ruptura pública com Dilma causaria um frisson nacional. Só assim Lula seria capaz de articular setores que hoje têm dificuldade de ficar ao lado do PT”, completa.
Fonte: O Estadão.com

Um comentário:

Anônimo disse...


MERVAL PEREIRA
Não é sem razão que o líder do PT José Guimarães teve coragem para se levantar contra as críticas de Lula ao PT. Ele faz parte de uma elite política que galgou degraus na hierarquia partidária a partir da abertura de vagas provocada pela prisão dos principais líderes do partido.

Quando um assessor seu foi preso num aeroporto com dólar escondido na cueca, José Guimarães não era ninguém a nível nacional, onde reinava seu irmão Genoíno, condenado no mensalão e posteriormente anistiado pela presidente Dilma.

Alguns anos depois do mensalão, lá está Guimarães no primeiro plano. E logo agora vem Lula querer uma revolução interna? Lembro-me bem de uma cena icônica do alpinismo social que tomou conta das figuras proeminentes do PT assim que chegou a poder.

Numa mesa do restaurante Antiquarius no Rio, o recém-eleito presidente da Câmara João Paulo Cunha, hoje em prisão domiciliar, o professor Luizinho e outras figuras menos conhecidas na época (talvez até mesmo o próprio José Guimarães) tomavam um porre de licor francês, embriagados de poder.


Fora o ato falho de falar em “livrar a nossa pele”, quase uma confissão, Lula está tentando fazer sua pequena Revolução Cultural dentro do PT, e pode sobrar para gente como José Guimarães. A Revolução Cultural foi comandada pelo então líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung, para neutralizar o fracasso do plano econômico Grande Salto Adiante, que gerou a morte de milhões de pessoas devido à fome generalizada.

A oposição crescente a Mao no interior do Partido Comunista foi atacada pelos “comitês revolucionários”, formados por jovens radicais que seguiam cegamente o pensamento de Mao e desmoralizavam os intelectuais e membros mais antigos do Partido que o criticavam.

Todo esse desvario de Lula nos últimos dias tem a ver com a Operação Lava-Jato, que o pega num momento de fragilidade política do governo, do PT e de sua própria figura, antes inatacável, hoje exposta às críticas da opinião pública.

Por isso mesmo, o truque que deu certo diversas vezes, hoje tende a não dar. Toda essa crise petista tem a ver com Lula, foi ele quem levou o partido para acordos políticos deletérios, em nome de um pragmatismo político que cobra seus custos.

O aparelhamento do estado, uma das características do governo petista desde o primeiro momento foi uma estratégia montada por Lula e José Dirceu para tomar conta do poder central. A ampla coalizão partidária sem nexo programático e sem cobranças morais, que acabou em mensalões e petrolões, saiu da cabeça de Lula e José Dirceu, que muito antes de o PT chegar ao poder central já praticavam essa promiscuidade entre o público e o privado nas prefeituras controladas pelo partido.

A morte do prefeito Celso Daniel, exemplar da conseqüência extrema desse tipo de política fisiológica, precedeu a eleição de Lula para a presidência em 2002, e o mensalão de 2005.

A presidente Dilma, que na visão de Lula estaria com ele no “volume morto” da política, foi criação única e exclusiva do ex-presidente, a “nova matriz econômica” começou a ser colocada em prática na metade de seu segundo governo, e deu no que deu.

Lula agora tenta dissociar-se dela e do PT, que está “velho” e só pensa em “empregos, em vencer eleições”. No último momento, com um salto triplo carpado, o grande canastrão tenta dar uma reviravolta política no destino decadente que se avizinha.