terça-feira, novembro 03, 2015

CUNHA USA BALA, BOI E BÍBLIA PARA DESVIAR O FOCO DO SEU AFASTAMENTO

Acuado por acusações de envolvimento nos casos de corrupção da Lava Jato e sob ameaça de afastamento, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estreitou, nas últimas semanas, a relação com grupos conservadores do Legislativo. Pautas que atingem direitos de minorias, voltaram a ganhar celeridade, enquanto projetos que incidem sobre a crise econômica, como o ajuste fiscal, passam longe de ser prioridade do peemedebista.
As últimas semanas foram de aceleração de pautas polêmicas. Avançou a lei que dificulta o aborto de mulheres vítimas de violência sexual, aprovou-se o Estatuto da Família, que define como família apenas as relações entre homens e mulheres; emplacou-se em comissão especial projeto que praticamente revoga o Estatuto do Desarmamento e aprovou-se em comissão a PEC 215, que modifica a forma como são feitas as demarcações das terras indígenas.
Na iminência de deixar a presidência da Câmara, Cunha ainda tem força suficiente para impor pautas que beneficiam grupos temáticos: segurança pública, ruralistas e religiosos, a chamada bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia). A estreita relação com a bancada conservadora que o levou a presidência ganha força em momento de ameaça.
O cientista político Filomeno Moraes reconhece o avanço dessas pautas como fruto da organização dos grupos conservadores, da presença de Cunha na presidência da Câmara, do “desmantelamento do presidencialismo de coalizão” e da “falta de liderança de Dilma”. No entanto, ele lembra que o Senado ainda não foi contaminado pelas temáticas. “O caminho a ser percorrido é extenso e cheio de desvios, de maneira que dificilmente se transformará em legislação vigente e eficaz”, acredita.

Numa queda de braço com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), Cunha já se posicionou contra as medidas do ajuste fiscal. A segunda etapa do projeto, que inclui o retorno do imposto da CPMF, está parada, mesmo com o esforço dos governistas para votar logo as medidas.
Para o doutor em Ciências Políticas, Josênio Parente, o momento faz parte da alternância de poder em estados democráticos. “Na democracia, há momentos em que dominam progressistas e outros em que a linha conversadora rege a política”, afirma.
O deputado José Airton Cirilo (PT) defende que a celeridade a pautas conservadoras se deve à provável saída de Cunha. Aníbal Gomes (PMDB), no entanto, não acredita que haverá enfraquecimento da postura conservadora da Casa. “Nós que somos maioria apoiadora do Governo, somos minorias para essas pautas (conservadoras)”, afirma Chico Lopes (PCdoB).
Fonte: O Povo.com

Nenhum comentário: