segunda-feira, outubro 20, 2014

Época - O VALE TUDO, A DIVISÃO NORTE-SUL E SOCIOECONÔMICA

É uma mudança histórica. O país irá às urnas no domingo, dia 26 de outubro, cindido ao meio entre eleitores da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB), na disputa mais virulenta dos últimos 25 anos. Nunca houve situação igual. Em 1989, na primeira eleição presidencial depois da redemocratização, a disputa entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva foi igualmente acirrada. Mas não havia a divisão geográfica, entre Norte e Sul, nem a socioeconômica, entre mais ricos e mais pobres, como há agora.

Como agravante, os dois primeiros debates do segundo turno, na semana passada, entre Dilma e Aécio, descambaram para o território do vale-tudo, da violência verbal e da desqualificação do adversário, de uma forma como nunca fora registrada nas disputas presidenciais anteriores entre petistas e tucanos. 

O conflito é a essência da prática política. Numa democracia, a disputa pelo poder entre grupos concorrentes passa pelo debate de ideias antagônicas sobre como governar melhor. Mas tem também uma dimensão moral, que se resume na seguinte ideia: um lado está certo, o outro está errado. Essa dimensão moral da política é menos permeada pela razão que pelos sentimentos. Eles se manifestam, muitas vezes, como indignação, raiva e até ódio. Somados, viram intolerância. Quando a intolerância subjuga o argumento, resta apenas o bate-boca. Quando dois candidatos à Presidência da República se entregam a um bate-boca em que a disputa eleitoral vira uma competição para ver quem desqualifica mais o outro, há dois problemas. Primeiro, os líderes políticos deixam de exercer seu papel educador . Segundo, sobram como lastro da disputa política as mágoas e os ressentimentos. Eles explodiram como nunca nesta eleição. Têm desfeito sociedades, separado amigos e dividido famílias.
Fonte: Época

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