domingo, março 11, 2018

Sugestão de Leitura: BABILÔNIA - A Mesopotâmia e o nascimento da civilização (PAUL KRIWACZEK)

A planície fértil entre os rios Tigre e Eufrates confinada pelo deserto do Sinai, a cordilheira de Zagros, o mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico recebeu dos gregos o nome de Mesopotâmia, a terra entre dois rios. Hoje esse território desértico pertence ao Iraque e ao Kuwait. Lá estão soterrados objetos, lendas e fatos ainda a ser descobertos. No livro “Babilônia — A Mesopotâmia e o Nascimento da Civilização”, de 2010, lançado no Brasil pela editora Zahar, o historiador austríaco Peter Kriwaczek (1937-2011) se propôs a decifrar alguns dos segredos ocultos sob as areias que viram nascer o que chamamos hoje de História. A tese de Kriwaczek é que a civilização mesopotâmica não foi erguida por um só povo, e sim pelo encontro de tribos diversas. Sua evolução de 2,5 mil anos, interrompida pela invasão persa, seguiu um percurso linear como o de um organismo vivo. Isso permite que tenhamos conhecimento dos avanços, desastres e pestes que acometem a humanidade. É a um só tempo a síntese de uma cronologia futura e a prefiguração da vida atual.

“A civilização que nasceu, floresceu e morreu na terra entre os rios não foi uma conquista de um povo, mas o resultado da união e da persistência, ao longo do tempo, de uma combinação singular de ideias, estilos, crenças e comportamentos”, diz Kriwaczek. “A história da Mesopotâmia é a de uma tradição cultural contínua e singular, ainda que seus portadores e propagadores humanos tenham sido diferentes em épocas diferentes.”

No século 55 antes de Cristo, a região era chamada de “Edin” por seus primeiros povoadores, os sumérios, tribo montanhesa que desceu à planície e lá conviveu com outros povos ao longo de milênios. “Edin” deu origem à palavra hebraica “Éden”, o paraíso na Terra. Além dos sumérios, passaram povos como os caldeus, babilônicos, assírios, amorreus, arameus, fenícios e hebreus, num revezamento de supremacias.

Em rede
A região poderia continuar como uma área agrícola paradisíaca, como ocorreu em muitos lugares durante o período neolítico, quando boa parte dos homens trocou a coleta e a caça pelo cultivo e o pastoreio. Mas algo se deu para que a Mesopotâmia sofresse mais uma mudança e abrigasse as primeiras cidades, sociedades organizadas e impérios. Esse algo se chama história. Segundo os estudiosos clássicos, o fato que dividiu a história da pré-história se deveu a uma invenção dos sumérios: a escrita. A escrita cuneiforme foi estabelecida em 3 mil a.C., mais de 2 mil anos da fundação da primeira cidade da Terra: a suméria Eridu
(5,4 mil a.C.). Os caracteres em forma de cunha gravados em tabuletas de argila serviram para que os sumos sacerdotes das cidades-estados, em nome de deuses como Inana (depois Ishtar) e Enki, controlassem o comércio, os bens e as transações litúrgicas.

“No curso de seus dois milênios e meio, a tradição baseada na escrita cuneiforme inventou ou descobriu quase tudo que associamos à vida civilizada”, afirma Kriwaczek. Graças a uma combinação de clima, engenho, tino comercial e convergência de etnias, surgiu um mundo feito de cidades, ciência, tecnologia, direito e literatura. Escrever permitiu que os homens se organizassem em torno de narrativas coerentes e elaborassem suas culturas.

Mas a contribuição mais duradoura dos mesopotâmios, ainda mais que a escrita cuneiforme (cujo uso durou 2 mil anos), segundo Kriwaczek, foi a instauração da primeira rede social mundial. “Com o que se chamou um sistema mundial, uma rede interligada de nações, comunicando-se e comerciando e lutando uma com as outras, essa tradição se espalhou por grande parte do globo”, afirma. Segundo ele, a interação na diferença levou à invenção da vida urbana.


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