1982 - FLÁVIO MORORÓ DERROTA ROCHA AGUIAR.


No início da década de 1980, o Brasil passava por uma transição com a ditadura dos militares dando sinais de esgotamento. O presidente João Batista Figueiredo, último dos cinco generais que governaram o país entre 1964 e 1985, dava continuidade ao processo de abertura política com a Lei da Anistia aos presos políticos e perseguidos pela ditadura, e também com a volta do pluripartidarismo no lugar do bipartidarismo imperante nos anos 70, representados pela Arena e MDB. Mas o grande passo para a redemocratização foi a volta das eleições diretas para governadores estaduais em 1982. No Ceará dois candidatos polarizaram o processo eleitoral para suceder o governador Virgílio Távora: o situacionista Gonzaga Mota (PDS) e o oposicionista Mauro Benevides (PMDB). Nesse mesmo pleito aconteciam eleições para Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Prefeitos interioranos.
Quatro candidatos, fato ímpar em toda história de Ipu, disputavam aquele pleito de 1982. Mas os candidatos das facções Morais e Rochista polarizavam as eleições como já acontecia desde os anos 50. O médico Dr. Rocha Aguiar, ex-prefeito no final dos anos 60 e eleito Deputado Estadual em 1978, pretendia voltar ao comando do Executivo Municipal. Do outro lado, Flávio Mororó, um jovem agrônomo que tinha como ponto forte de sua campanha a proposta do “novo e moderno”, contando também como trunfo decisivo a parcialidade da maior liderança cearense da época o governador Virgílio Távora. Flávio era situacionista, pois o prefeito Milton Pereira, que fazia uma boa administração, o apoiava. No que se referia a questão governamental não havia divergências, pois ambos os candidatos pertenciam ao conservador PDS oriundo da antiga ARENA que deu sustentáculo a ditadura militar. Salientamos que, naquela época, era permitido que houvesse mais de um candidato a Prefeito por sigla partidária. O poderoso PDS cearense tinha como candidato ao Executivo estadual Gonzaga Mota, que era apoiado pelos “coronéis” e ex-governadores Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora. Este último se afastara da governadoria para concorrer a uma vaga no Senado.
O PMDB e PT, partidos de pequeno porte na cidade e recém fundados, também se organizavam e lançavam candidaturas ao Executivo municipal. Os peemedebistas lançaram Luiz Damasceno o qual tinha para Vice o comerciante João Porfírio. O PT articulado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipu, mas diferentemente do que acontecia nas principais cidades do país, não tinha o apoio da classe bancária da cidade, lançou como candidato Pedro Paiva o qual tinha como Vice o agricultor Simão de Sousa. Essas candidaturas vinham no vácuo da retomada do pluripartidarismo nacional, mas não conseguiram empolgar o eleitorado.

O “bode louro” Rocha Aguiar tinha como Vice de sua chapa o “morcego” Maurício Xerez. Flávio Mororó tinha como seu vice o Dentista Vladimir Mourão. A estrutura da Prefeitura associado ao poder financeiro da família Mororó liderada por Elias, irmão de Flávio, foram decisivos para derrotarem Dr. Rocha Aguiar. O médico do Camocim, para muitos analistas que eram seus correligionários, perdeu as eleições nos últimos dias de campanha, pois confiante na vitória não se preocupou em montar uma estratégia para evitar adesões ou compras de voto nas últimas horas antes da votação. Enquanto o comício final do “Bode Louro” acontecia na Praça 26 de Agosto, os abonados cabos eleitorais de Flávio Mororó visitavam astutamente os redutos rochistas nas periferias. Essa foi a primeira eleição do Ipu em que se viu uma escancarada compra de votos feita por ambas facções. Tudo isso acontecia sobre o olhar complacente do Juiz de Direito Dr. Bayron.
Dos 18.434 eleitores aptos a votar 76% compareceram as urnas. Flávio Mororó obteve 6.690 votos, enquanto Dr. Rocha ficou com 6.385. A facção Morais saia mais uma vez vitoriosa de forma apertada como acontecera em 1976. Os Rochistas lamentavam a tímida maioria de 2% que Flávio obteve. Luiz Damasceno (PMDB) conquistou 261 votos, enquanto o PT de Pedro Paiva obteve minguados 72 sufrágios. Antonio Ximenes Veras(PDS) foi o Vereador mais votado com 1.284 votos. Outro fato marcante foi que uma mulher voltava a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal, com a eleição de Madalena Ferreira Pontes (PDS). Dos 13 Vereadores eleitos, 7 eram de oposição. O novo Prefeito eleito teria que conviver com uma Câmara oposicionista.

Dr. Rocha encerrara assim sua carreira política na Terra de Iracema. Seu grupo passaria anos depois a ser liderado pelo empresário José Carlos Sobrinho, o Zezé.