EVOLUÇÃO RELIGIOSA DE IPU

EVOLUÇÃO ECLESIÁSTICA DO IPU


A MATRIZ DE SÃO GONÇALO DA SERRA DOS COCOS (1757-1883)
A Ibiapaba no final do século XVII e início do século XVII, foi objeto de um conflito de jurisdição entre a Junta das Missões do Maranhão e a Junta das Missões da Diocese de Pernambuco. Ambas requisitavam o direito de catequizarem os índios da região. A catequese do índio, entrelaçado a interesses políticos e econômicos, fez surgir a rivalidade entre o clero regular representado pelos Jesuítas na Ibiapaba, e o clero secular sediado em Pernambuco o qual havia estabelecido um curato em 1716 na Fazenda Caiçara, hoje Sobral, as margens do rio Acaraú . Havia o interesse desses religiosos em barrar o avanço dos perspicazes Padres Jesuítas que, vindos do Maranhão, ameaçavam também avançar pelos sertões do alto e médio Acaraú.
Essa querela religiosa chegou as Cortes Portuguesas, sendo determinado que os jesuítas não poderiam ultrapassar o rio Inhuçu (próximo a São Benedito). Dessa forma, a “Serra Grande” foi dividida em duas parte: ao norte, sob a jurisdição dos jesuítas, tínhamos o que se chamou de Serra da Ibiapaba; ao sul, ficava a imensidão habitada por índios bravios e de geografia mais inóspita chamada de Serra dos Cocos. O conjunto da cordilheira era chamado, a esta época, simplesmente de Serra Grande.
Em 1722, enquanto a questão com os jesuítas arrastava-se, o Padre João de Matos Serra, cura do Curato do Acaracu, enviou para a Serra dos Cocos o frei José da Madre de Deus, da ordem dos Carmelitas, com a missão de construir uma capela sobre a serra a fim de evitar o avanço dos jesuítas rumo ao sul da Ibiapaba.
Frei José veio ter com o Capitão José de Araújo Chaves, dono da sesmaria das Ipueiras (atual cidade de Ipueiras), pedindo-lhe que cedesse um terreno na porção serrana de suas terras para a construção da dita capela. O capitão, por sua vez, cedeu não um, mas dois terrenos, exigindo que fossem construídas duas capelas, uma na serra e outra no sertão. Ele também escolheu os padroeiros. A capela do sertão seria dedicada a Nossa Senhora da Conceição e a da serra a São Gonçalo do Amarante.
O padre carmelita deu prioridade à construção da capela serrana, mas acabou tendo que fugir das perseguições movidas pelos jesuítas. Deixou, no entanto, a capelinha inacabada, mas já servindo para as celebrações que eram raras nessa época dada a distância imensa que os padres tinham que percorrer. No máximo, os devotos podiam confessar-se e comungar uma vez por ano, quando pela capela passava um padre que ministrava a "desobriga", aproveitando também o ensejo para realizar todos os batismos, crismas e casamentos necessários. Diz-se que era comum as crianças batizarem-se com até doze anos de idade em alguns pontos da Serra dos Cocos, dada a distância e o longo tempo que ficavam ser receber a visita de sacerdotes. Estes, por sua vez, enfrentavam toda sorte de perigos em cavalgadas intermináveis, subindo e descendo serras, percorrendo sertões, sujeitos a emboscadas de índios e saqueadores.
A capelinha de São Gonçalo foi escolhida, em 30 de agosto de 1757, para matriz da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos. Desde então, o povoado ao seu redor passou a chamar-se de Matriz de São Gonçalo e hoje chama-se simplesmente "Matriz" e é distrito do município de Ipueiras.
O território da Freguesia de São Gonçalo era imenso. Compreendia as atuais cidades de Ipueiras, Guaraciaba do Norte, Ipu, Poranga, Nova Russas, Ararendá, Tamboril e Hidrolândia perfazendo uma extensão de quarenta léguas.
No final do século XVIII, o povoado do Campo Grande, atual Guaraciaba do Norte, encontrava-se mais desenvolvido do que a Matriz de São Gonçalo, ao mesmo tempo em que ficava mais próximo de outros pontos também em desenvolvimento, como Viçosa e Sobral. Por este motivo, os padres da imensa Freguesia acabaram preferindo residir no Campo Grande, deixando em segundo plano a matriz.
Por outro lado, bandos violentos agitavam a serra em constantes brigas de família, ensangüentando a Ibiapaba e, principalmente, o povoado da Matriz de São Gonçalo.
Em 12 de maio de 1791, o território da Freguesia de São Gonçalo emancipou-se politicamente com a criação da Vila Nova d'El Rey. Para sede da vila foi escolhido o povoado do Campo Grande, o que aumentou o isolamento da Matriz de São Gonçalo.

A  PRIMEIRA CAPELA
No início do século XVIII com a chegada dos primeiros sesmeiros vindos de Pernambuco e de Alagoas, surgiu uma Capela de taipa, coberta com palhas e com a frente voltada para o poente. Igrejinha  em homenagem a Nossa Senhora do Desterro, foi contruída por volta de 1765.  A vida religiosa do Ipu nascera ali entrelaçada com a catequese, mas sobretudo como produto da expansão da pecuária pelos sertões do nordeste. As primeiras e rústicas casas, o canto dos pássaros, o murmúrio da Bica, o chão batido sendo cortado pelo espantar dos porcos e galinhas, os nativos que iam perdendo suas terras e sendo etnocidado. Era o Ipu que nascia para o mundo, e que seria o berço de uma raça branca e cabocla, devido o amancebo dos homens de ascendência européia com as índias tabajaras em meio a carência de mulheres brancas. Era o Ipu, também chamado de “Vila dos Enredos”, onde um arraial se erguia em torno da Capela no local chamado de Papo, nome esse dado a povoação que se formava por ser distribuída em uma área que se assemelhava a uma ave.
Essa primeira Capela foi demolida no século XIX , e em seu lugar surgiu a atual e conhecida Igrejinha do Quadro, com seus traços simplórios e testemunhos de uma época,a qual deve ser respeitada e protegida pelos ipuenses.

PADRE CORRÊA – CONSTRUTOR E PATRIARCA DA TERRA DE IRACEMA

A 26 de agosto de 1840, a sede da Vila Nova d'El Rey foi transferida para o Ipu, tomando o nome de Vila Nova do Ipu Grande. Essa mudança, ao que tudo indica, guarda relação com o desenvolvimento econômico do Ipu mas também com as desavença políticas entre ipu e as ipueiras, as quais seriam acentuadas com a chegada do Padre Corrêa ao Ipu sendo este rival dos Mourões .
Mais ou menos em 1845, chega ao Ipu o último cura da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, o padre Francisco Corrêa de Carvalho e Silva. Ao que tudo indica, foi o primeiro sacerdote a fixar residência no Ipu. Sua justificativa para não morar na sede da Freguesia era o fato de haver encontrado a igreja de São Gonçalo em péssimo estado, com paredes ruindo, o que impossibilitava seu uso para as celebrações. A providência que tomou foi a de mandar demolir a antiga igreja para que fosse construída outra. Enquanto isso, conseguiu autorização para transferir as alfaias e ornamentos para a capela de São Sebastião. O religioso também ficou conhecido por não ter apego com o celibato, pois teve filhos os quais descendem importante familia ipuense.
A construção da atual igreja da Matriz arrastou-se por muitos anos. Enquanto isso, resolveu o Padre Corrêa demolir também aquela primitiva capela que havia no Ipu e mandou construir a atual igrejinha.
Dessa forma, a capela da igrejinha remonta à segunda metade do século XIX, não sendo a primeira igreja do Ipu, como dizem alguns. O Padre Corrêa faleceu no Ipu a 13 de junho de 1881, sendo nomeado para seu sucessor o Padre João José de Castro. No entanto, em 27 de outubro de 1883, a antiga Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos foi extinta, sendo criadas em seu lugar as Freguesias de Nossa Senhora da Conceição de Ipueiras e a de São Sebastião do Ipu. A igreja de São Gonçalo passou a ser capela da Freguesia de Ipueiras.

PADRE JOÃO DE CASTRO, O PRIMEIRO PÁROCO DE IPU
O Padre João José de Castro foi, dessa forma, o primeiro pároco do Ipu, visto que o Padre Corrêa, apesar de residir por aqui, era oficialmente pároco da Freguesia de São Gonçalo.
Em 1886, o Ipu foi elevado à categoria de cidade. A economia e a cultura desenvolviam-se e o padre João de Castro, além de seu trabalho pastoral, atuou em outros âmbitos, tendo sido fundador e primeiro presidente do Gabinete Ipuense de Leitura e organizado a festa de inauguração da Estação da Estrada de Ferro de Sobral, em 1894, ano em que veio a falecer.
A seguir, veio o Padre Máximo Feitosa de Castro, permanecendo no Ipu de 1894 a 1911. Priorizando o trabalho pastoral, fundo o Apostolado da Oração e duas Conferências Vicentinas.
O Padre Aureliano Mota chegou ao Ipu em 1911 para suceder o padre Máximo Feitosa. Percebendo o crescimento econômico do Ipu e a posição privilegiada da cidade, tratou de chamar para cá seu irmão, o jurista, folclorista e escritor Leonardo Mota. Permaneceu à frente da Freguesia de São Sebastião por apenas cinco anos, o suficiente para idealizar a construção de uma igreja matriz que deveria ser a maior e mais bela de toda a região norte. A planta foi feita pelo arquiteto Arquimedes Memória e a pedra fundamental lançada em 1914. O jornal O Rebate, de Sobral, noticiou o fato na edição de 24 de outubro de 1914 com as seguintes palavras: "Com desusada solenidade realizou-se domingo ultimo, no Ipú, a bênção da primeira pedra fundamental da nova egreja-matriz daquela cidade, grandioso empreendimento que pretende levar a efeito, ali, o seu atual vigário, padre Dr. Aureliano Mota."

UM PADRE IPUENSE, O MONSENHOR GONÇALO

Com a transferência do Padre Aureliano para Quixeramobim, foi designado para o Ipu o Padre Gonçalo de Oliveira Lima, assumindo a Paróquia em 09 de abril de 1916. Continuou a construção da matriz a qual, devido às suas grandes dimensões, levou 26 anos para ser concluída. Padre Gonçalo enfrentou dificuldades, como as grandes secas de 1919 e 1932, quando foi criado em Ipu um campo de concentração para os flagelados, aos quais o padre deveria prestar auxílio espiritual.
Por duas vezes assumiu cumulativamente as paróquias de Ipu e Guaraciaba do Norte, sendo a primeira de 12 de junho de 1920 a 02 de dezembro de 1922 e a segunda de 26 de junho de 1923 a 28 de outubro de 1925.
Em 1947, com 63 anos de idade (idoso para a época), o então Monsenhor Gonçalo entregou a paróquia ao Padre Francisco Ferreira de Moraes. Este tomou posse no dia 10 de janeiro daquele ano e permaneceu à frente da Paróquia de São Sebastião do Ipu por mais de cinqüenta anos.Preocupado com o bem estar de seus paroquianos, o padre Moraes buscou recursos para a construção de vários obras consideradas fundamentais para o desenvolvimento da cidade. Entre elas, destacam-se o Centro de Puericultura, onde dava-se assistência às crianças e gestantes; o Patronato Sousa Carvalho, construído com apoio financeiro da família Sousa Carvalho, natural do Ipu mas há muito morando no Sudeste do país; a Escola Profissional, onde funcionava um curso ginasial, uma tipografia, escola de música e de marcenaria; a Maternidade Doutor Francisco Araújo; e o Centro Social Urbano.Em dezembro de 1999, foi tornado vigário emérito por decisão de então Bispo da Diocese de Sobral, D. Aldo Pagotto. Em seu lugar, assumiu a Paróquia a então vigário diocesano Padre Raimundo Nonato Timbo de Paiva o qual dirige a paróquia atualmente.

Padres Reside/Posse e Saída

1º João José de Castro 13 de Novembro 1883 11 de Junho 1893


2º Fco. Máximo Feitosa e Castro 1893 1911


3º Aureliano Mota 23 de Setembro 1911 Fevereiro de 1916


4º Gonçalo de Oliveira Lima 19 de Abril 1916 21 de Dezembro 1946


5º Fco. Ferreira de Moraes 10 de Janeiro 1947 08 de Dezembro 1999


6º Raimundo Nonato de Paiva 09 de Dezembro 1999 -
• O Pe. Francisco Corrêa de Carvalho e Silva não foi pároco, mas morou em Ipu desde 1845, como vigário colado da Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, até seu falecimento, em 13 de junho de 1881. (36 anos). Portanto, são 159 presença ininterrupta de Padres na cidade de Ipu.