(Milton Pereira - reeleito Prefeito em 1988)
Em meados de 1988, depois de seis anos de gestão do prefeito Flávio Mororó, o povo ipuense voltaria às urnas para escolher um novo gestor municipal. Enquanto isso, o Brasil retornava a democracia com a promulgação da Carta Constitucional de 1988, bem como com os preparativos para o pleito presidencial de 1989, que depois de 29 anos voltaria a ser pelo voto direto. No Ceará, o governador Tasso Jereissati impunha uma gestão mudancista, combatendo a sonegação fiscal, a criminalidade dos pistoleiros de aluguel e afastando os funcionários fantasmas. Era certo também que o próximo prefeito ipuense, de acordo com a nova Constituição, teria um mandato de quatro anos e não mais de seis, como fora as administrações de Milton Pereira e Flávio Mororó.
Três candidatos surgiram para a disputa. A facção Morais lançara o nome de Milton Pereira pela coligação PMB-PFL-PDS, enquanto os Rochistas lançaram o nome do empresário Zezé Carlos pelo PTB. O professor da UFC (universidade Federal do Ceará), Luciano Paiva, representaria uma terceira via em meio ao tradicional bipartidarismo ipuense se lançando candidato pelo ainda radical PT.
A cidade ainda não possuía emissoras de rádio, e desta forma os boatos eram entoados pelas ruas, praças, calçadas e principalmente nos bares da cidade. Diversas concentrações políticas, adesões e traições partidárias aconteciam a quase todo momento. Na história Ipuense esta foi uma das primeiras eleições que serviram para rotular a cidade, como proporcionalmente possuidora de uma das eleições mais caras do interior do Estado. Ambas facções abusaram do poder econômico em 1988. Outro fato atípico é que os caminhões e as C-10 já não seriam os únicos meios de transporte para o eleitorado pois os ônibus da empresa de transporte VIPU, de propriedade do candidato oposicionista, faziam oportunamente o deslocamento do eleitorado petebista. Antônio Carlos, irmão do candidato Zezé e surpreendentemente rompido politicamente com o mesmo, disponibilizara os ônibus da sua empresa Ipu-Brasília para vários comícios da facção Morais.
A ambigüidade foi marcante nos caracteres de 1988. Para isso, basta lembrarmos que o candidato a vice-prefeito na chapa de Zezé Carlos era o agrônomo Simão Martins, filho do ex-prefeito Abdias Martins e, portanto, membro de uma família tradicionalmente inimiga do Rochismo. Outro paradoxo estava no fato de Magela Aragão Ximenes, filho do histórico rochista Antônio Ximenes Veras, compôs a chapa de Milton Pereira, como candidato a vice-prefeito. Não podemos esquecer que o candidato petista Luciano Paiva, era genro do ex-prefeito Dr. Rocha Aguiar.
O situacionista Milton Pereira contava com fortes trunfos políticos, sendo um deles o patrocínio do prefeito Flávio Mororó com a força da máquina pública municipal, e por outro lado, o apoio equivocado do governador Tasso Jereissati através do descaracterizado PMDB local e do PMB de Magela Ximenes. Não esquecendo que o “Véi Miltu” com sua experiência e carisma contrastava com o estilo lacônico de Zezé Carlos.
Usamos aqui o termo equivocado para classificar o posicionamento do governador cearense, pelo fato de Milton Pereira e Flávio Mororó terem combatido a campanha tassista de 1986, e terem inclusive votado e trabalhado para o candidato governamental Adauto Bezerra. Mesmo com Milton Pereira sendo candidato pelo PMB, partido criado por Tasso no Ceará para acomodar adesistas de última hora, os rochistas de Zezé Carlos não acreditavam que Tasso Jereissati os traísse. Mas o “galeguinho dos zói azul” marcou presença em um comício de Milton e Magela, realizado em um final de tarde na Rua Cel. José Lourenço, nas proximidades da agência dos correios e telégrafos. Faltavam apenas duas semanas para as eleições e este fato foi decisivo para o resultado final daquele pleito.
O comício final dos candidatos foi marcado por uma grande expectativa. O candidato do PT, Luciano Paiva, encerrou sua campanha um dia anteriormente aos outros dos candidatos, onde ao som da Banda Shock finalizou sua proposta de governo, com um eloquente discurso de esquerda para todos os presentes na Praça Delmiro Gouveia. O candidato da coligação PMB-PFL-PDS, Milton Pereira, fez o seu comício de encerramento no largo da Igreja Matriz, enquanto o candidato do PTB, Zezé Carlos, fez sua manifestação final na Praça de Iracema, tendo sido o palco montado na calçada da residência do Senhor Raimundo Salú onde funcionava a agência da Rápido Crateús.
O dia da eleição (15 de novembro) e a apuração dos votos foram marcadas por uma forte tensão, ocorrendo vários incidentes políticos resolvidos somente com intervenção policial. O Juiz Eleitoral, Paulo Timbó, iniciou a contagem pela cidade de Pires Ferreira. Foi rápida a contabilização dos sufrágios, e o antigo distrito de Ipu elegeu o jovem Meton Júnior para ser o seu primeiro prefeito. Enquanto isso, por questões de tempo e também de segurança, as autoridades judiciárias resolveram adiar o início da contagem eleitoral de Ipu para o dia seguinte. A contagem foi reiniciada as 9Hs, mas volta das 17Hs o juiz, mais uma vez por questão de segurança, suspendeu a contagem dos votos. Faltavam apenas 15% das urnas para serem apuradas e a maioria de Milton sobre Zezé era de apenas 600 votos. Enquanto os correligionários do empresário ainda guardavam esperanças de um revés os eleitores situacionistas já comemoravam pelas ruas de Ipu com fogos e o tradicional grito de “olha o fumo!”. Na manhã do dia 18 o veredicto das urnas sentenciou: Os Rochistas sofriam sua terceira derrota consecutiva.
Milton Pereira e Magela Aragão tiveram 7.009 votos enquanto Zezé e Simão conquistaram 6.507 votos. Luciano Paiva e Cleide Damasceno conquistaram 376 sufrágios. A eleição, com todos esses ingredientes, acabou sendo disputadíssima assim como fora também as anteriores, onde o candidato vencedor obtinha uma margem diferencial de menos de 5% dos votos válidos em relação ao candidato derrotado. Registramos que o pleito de 1988, foi o último verdadeiramente competitivo do final do século XX.
Flávio Mororó, embora sua família (e ele próprio) tivesse tentado inicialmente lançar como candidato o seu cunhado e médico Eduardo Bezerra, foi o grande vencedor. O prefeito elegera a maioria dos vereadores da Câmara e ainda conseguira eleger sua sobrinha Ivna Mororó como a vereadora mais bem votada com 678 votos.
(vejam matéria sobre o assunto já publicada em nosso blog:http://ipuemdebate.blogspot.com/2010_09_01_archive.tml)
(vejam matéria sobre o assunto já publicada em nosso blog:http://ipuemdebate.blogspot.com/2010_09_01_archive.tml)
3 comentários:
Chega da mesmice!
Temos que mudar os rumos da Administração Pública de Ipu.
E QUE SEJA PARA MELHOR.
Nesta historia começava a ter mais força o dinheiro, Zeze Carlos com o poder do dinheiro queria compra todos, ouve uma infração dos valores das chamadas lideranças sentidas ate hoje, o poder sendo conquistado a qualquer custo, esquecendo a moral e a dignidade das pessoas, este sem duvidas foi o maior mal plantado na cidade de Ipu, estava com muito mais força a troca de favores por voto, um mal para a democracia, um mal ja existente mas que aqui foi emplantado com muita força, e hoje esta ai o resultado, o grupo Zeze hoje toinha submetido ao prefeito por trocas de ¨favores¨, poder que cala a todos, sulfocante, o povo sem voz, a espera de um salvador, só nos resta ter esperança que dias melhores virão.
Muito bom seu comentário sobre a eleição do Dr. Milton Pereira. Porém equivoca-se quando diz que o candidato preferido do Dr. Flávio Mororó era seu cunhado Dr. Eduardo Bezerra, até porque ele não podia por ser parente em 2º grau do prefeito. Houve uma reunião na casa do Sr. Elias Mororó e lá algumas pessoas não concordavam com a candidatura do Dr. Milton, mais a maioria aprovou o seu nome. O nome preferido do Dr. Flávio era o do Dr. Junior Pereira, que naquela época era seu principal assessor e homem de sua confiança. Porém o Dr. Flávio quedou-se às pesquisas que davam ampla maioria ao Dr. Milton, e jamais o Dr. Junior iria contra a orientação do seu tio Milton Pereira. Embora o Dr. Eduardo estivesse bem nas pesquisas, ele não poderia ser candidato pois era cunhado do Prefeito e por isso impedido constitucionalmente.
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