sábado, janeiro 23, 2021

SENADOR EDUARDO GIRÃO AVALIA CENÁRIO NACIONAL E ANALISA SUCESSÃO GOVERNAMENTAL

 

Após concluir o segundo ano do primeiro mandato como senador, Eduardo Girão (Podemos) é um dos parlamentares que cobram  a convocação extraordinária do Congresso Nacional em meio à segunda onda da Covid-19 no País. Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o senador reafirma postura "independente" em relação ao Governo Bolsonaro, mas critica o que considera uma "politização da pandemia" e diz ser contrário à abertura de um processo de impeachment, que, segundo ele, iria "tumultuar a democracia". Girão classifica a gestão federal como um "governo de transição". 

Quanto aos atrasos na imunização dos brasileiros, o parlamentar atribui o problema à “falta de união” que tem marcado as relações políticas no País, e afirma que tem muita gente “torcendo contra” por interesses políticos. Ele elogia a postura do Governo Federal ao longo da crise sanitária e cobra “gratidão” do Governo do Estado pelas ações até aqui. 

Ao Diário do Nordeste, Girão também fala sobre a eleição para a Presidência do Senado e sobre o cenário político local. Para ele, as eleições municipais de 2020 mostraram um “grito de liberdade” dos fortalezenses e cearenses com resultados obtidos pela oposição nas urnas. Sempre envolvido com temas como combate à corrupção e à impunidade, o senador sustenta que seu grupo político representa “uma nova forma de fazer política, a boa política”.

DN - O senhor reafirma, desde que assumiu o mandato, postura de independência em relação ao Governo do presidente Jair Bolsonaro. Qual a sua avaliação sobre a condução federal da pandemia?  

A postura desde o início do mandato é muito clara. A gente vota pelo Brasil, pelos brasileiros. E muitas vezes até contrariamos as visões com relação ao Executivo. Podemos dizer que essa independência está muito clara, inclusive com críticas fortes a algumas posições do Governo Federal, mas também reconhecendo feitos positivos. Com relação à pandemia, o que vejo é que se politizou a pandemia no Brasil.

Vejo isso com muita tristeza, porque isso vai desde um tratamento precoce, que é demonstrado por várias pesquisas científicas no mundo inteiro que existe algum grau de eficiência, por menor que seja. A gente não pode negar isso às pessoas por uma questão ideológica. A gente não pode negar às pessoas que, por exemplo, ivermectina, hidroxicloroquina, têm algum efeito positivo (contra a Covid-19). Mesmo que não seja o que estão alardeando, mas têm algum efeito de evitar que as pessoas se agravem em seus casos.  

A gente vive um momento muito sombrio no Brasil, é um negócio estranho, porque essa politização pode estar fazendo com que vidas não sejam poupadas. Então, acredito que esse debate foi um pouco irracional, tudo isso. De um lado e de outro. Acho que a gente não pode negar tratamento às pessoas, a esperança das pessoas. E vejo um esforço muito grande para detonar pesquisas, sabe? É uma coisa até desumana. Desumana.

Eu acho que está todo mundo buscando solução, todo mundo. Isso pegou de calça curta todo mundo: Executivo, Legislativo, Judiciário, todo ser humano no planeta. Então está faltando um pouco de humanidade para buscar alternativas, e não desconsiderar. Eu tomei ivermectina. Tomei e conheço muita gente em Fortaleza, em Brasília, no Brasil, fora do Brasil, que tomou ivermectina, hidroxicloroquina, nos primeiros momentos quando sentiu (manifestações da doença). (...) Não existe porque essa demonização desses medicamentos, que têm salvado.

Relatos a gente vê, mas é aquela coisa do politicamente correto, então isso é muito perigoso. Tenho feito isso nas redes sociais, mesmo sendo, às vezes, diminuído em termos de entrega, de alcance, porque existe uma censura branca nas redes sociais já, o que é muito perigoso para a democracia. O que não interessa ao establishment, ao que eles pensam, o que diverge deles, diminui o potencial do seu alcance na rede social, mas continuo fazendo, porque quero colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo, sabendo que estou seguindo a minha consciência, tentando ajudar da forma que posso.  

DN - Em meio às instabilidades em Brasília, partidos de oposição têm feito pressão por encaminhamento de um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O senhor vê motivos para um processo de impedimento? Como se posiciona sobre isso?  

Eu vejo isso como uma forma de tumultuar a democracia. É um fato que o presidente também não ajuda nesse aspecto, né? Mas, desde que houve a posse... antes mesmo da posse, mas durante esses dois anos mesmo de mandato, não teve paz sequer um dia. Muita confusão, muita gente torcendo contra, repito, o presidente também não ajuda, retrucando. Mas o fato é que isso não é bom para ninguém.

As pessoas precisam entender, todos nós estamos no mesmo barco. É o processo democrático. Foram 58 milhões de brasileiros que levaram o presidente a assumir o mandato, elegeram o presidente. Então não é assim, na força. Acho que a democracia no Brasil ainda é muito jovem, e mais um impeachment... por um motivo que não clareza nenhuma, não tem clareza, muito pelo contrário. Acho que esse Governo, em relação a outros, pelo menos escândalos de corrupção, você não ouve falar.

Por mais que tenha falhas nesse Governo, e tem falhas, eu tenho denunciado, eu tenho mostrado: aproximação com o Centrão, essa indicação do ministro Kássio (Nunes) para o STF (Supremo Tribunal Federal), que foi algo que não poderia nunca ter sido negociado. O Supremo há muito tempo é questionado e poderia ter ali uma figura que fosse a favor da Lava Jato, que está sendo sabotada pelos três poderes da República, o Judiciário, o Executivo e o Legislativo também, inclusive com interferência na Polícia Federal.  

Tenho uma PEC para que não haja essa interferência, tenha mandato para o diretor-geral, lista tríplice, enfim, independente se sai presidente, entra presidente, continua a diretoria. Mas acredito muito que nós temos uma responsabilidade comum com relação a tudo isso, e vejo claramente que esquemas como o Petrolão, Mensalão, aquelas vergonhas nacionais que a gente tinha, de outros governos aí, de escândalos por cima de escândalos, isso não está tendo agora.

Vejo a maioria dos ministérios com pessoas capacitadas, preparadas, que têm feito um trabalho para a Nação, com algumas exceções em alguns ministérios, mas a gente vê um outro comprometimento e não vê esses escândalos todos. Então, a gente não pode, pelo delírio, de uma forma vazia, para tumultuar a democracia, querer fazer impeachment. Isso é algo que atrasa o País e tem interesse eleitoreiro. O interesse é eleitoreiro.  

Vejo até esse Governo como um governo de transição. Acredito que foi para tirar uma estrutura política corrupta, carcomida, enlamada totalmente na corrupção, e precisava dar uma sacudida. Mas acredito que faz parte do processo de transição que a gente vive, para vir depois um outro Governo, que tenha mais os anseios, as pautas da sociedade, contra a impunidade, que é o que realmente coloca esse País de joelhos para o mundo. A corrupção no Brasil é o grande problema. E que possa trazer novos ares para esse Brasil, que ele é fantástico, ele é riquíssimo. Então, se tiver um Governo que tenha essa habilidade, pode gerar muitos frutos para as futuras gerações. É um País cheio de oportunidades, com reservas de todas as formas que a gente pode imaginar, potencial para o turismo fabuloso, e para tantas outras possibilidades de negócios.  

O que a gente precisa é de serenidade. Acredito que pautas da sociedade, como o combate à corrupção, a impunidade, a (prisão em) segunda instância são urgentes, (assim como) o fim do foro privilegiado. A grande blindagem dos corruptos no Brasil é o foro privilegiado. Aí fica o STF protegendo o Senado, e o Senado protegendo o STF, que podem investigar um ao outro. Fica esse ciclo vicioso para a nossa Nação.

Daqui a dois anos tem eleições, tem outros nomes, para que a gente possa escolher outras opções em 2022, para ver o que se pode corrigir de rumos. Vamos observar. Eu continuo fazendo o meu trabalho, fiscalizando, mas também colaborando com o Brasil. Independentemente de quem está no Governo, colaborando com o Brasil e torcendo para que o Brasil dê certo. E, obviamente, para que o Brasil dê certo, esse Governo tem que dar certo também. 

No Ceará, o Podemos vive um momento de reposicionamento como partido de oposição, inclusive a partir de resultados expressivos no pleito municipal de 2020. Como o senhor avalia a última eleição no Estado? 

Avalio a última eleição, na esfera municipal, de uma vontade grande do povo cearense, em geral, de se libertar. Se libertar desse sistema, um sistema baseado no coronelismo, no voto de cabresto, ainda, por incrível que pareça. Se libertar do poder financeiro, de compra de votos, do domínio de uma família, de um clã que vem dominando o Ceará há décadas.

Acho que o fortalezense deu um grito de liberdade. O juazeirense conseguiu se libertar. Alguns outros municípios, São Gonçalo do Amarante, Caucaia, Maranguape, conseguiram se libertar. Deram um grito importante e conseguiram. Outros ainda não. Fortaleza foi por muito pouco, mas acreditamos que foi um passo muito importante, porque mostrou que a população não está satisfeita com esse sistema que está aí.

Vejo que foi um passo importante para uma libertação maior. Quem sabe em 2022, que ainda está muito longe, muita coisa para acontecer. Acredito que tudo tem um ciclo, na vida. Tudo tem um ciclo, e esse ciclo está terminando, esse ciclo desse tipo de política, algo muito fisiológico, que domina vários setores por interesse, para mandar e desmandar. E é isso que que está acontecendo com interesses políticos também, para 2022, o projeto para a Presidência da República. O Estado do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza são um meio desse grupo, para fortalecer isso. O objetivo é permanecer no poder. Permanecer, continuar, mas o sistema está esvaindo, saturou.

A gente viu muito isso. Eu vi muito nas ruas, coordenando a campanha do Capitão Wagner (então candidado do Pros à Prefeitura de Fortaleza), conversando com as pessoas simples. E as pessoas (dizendo): 'vão nos libertar disso, eu não aguento mais'. Acredito que isso vai ser muito natural, isso vai ocorrer de forma natural, com a consciência das pessoas cada vez mais despertadas. 

DN -Quais são as próximas metas do Podemos como partido no Ceará?  

O Podemos está tendo uma postura muito clara, uma nova forma de fazer política, a boa política. Alinhamento por ideias, não por interesse. Nós temos plenas convicções, eu faço parte do grupo, na verdade quem lidera é o Fernando Torres, o presidente do partido, que a gente tem um alinhamento muito grande em pautas. Em defesa da sociedade, a favor da vida, contra drogas, contra jogatina. Isso é uma ameaça de lobbies que tem em todas as esferas, e nós conversamos com o grupo. Muita gente boa.

Tem também a Kamila Cardoso, que está conosco, que foi candidata a vice-prefeita do Capitão Wagner. (...) O Podemos não é absolutamente melhor do que ninguém, tem apenas certos princípios, valores, de engajamento, de alinhamento, para que se possa ter esse tipo de política e a formação de cidadania. E a gente espera que o partido continue crescendo, sem atalhos, no tempo certo.  

O importante é isso, discussão de propostas para a sociedade, de uma forma muito natural, uma nova forma de fazer política. Sem conchavo, sem toma lá, dá cá, sem barganha. Acho que é por aí. E, fora o Podemos, que tem um alinhamento natural com o Pros, liderado pelo Capitão Wagner, tem outros também, de muitas lideranças boas na oposição, inclusive de fora da política, que têm participado de reuniões conosco, e é uma construção natural. Os sinais vão acontecendo, e a gente está preparado para somar. Todos, todos esses atores aí, preparados para somar em um crescimento dessas ideias, dessas propostas que possam culminar, quem sabe, se assim for a vontade de Deus, com a redenção, de verdade, do Estado do Ceará. 

DN -O senhor está no seu primeiro mandato eletivo e, em 2020, já demonstrou articulação importante com lideranças em outros municípios. Teve também participação ativa na campanha de Capitão Wagner pela Prefeitura de Fortaleza. O senhor pretende liderar a organização da oposição até a disputa pelo Governo do Estado em 2022? Na sua avaliação, quais devem ser os próximos passos da oposição?  

Eu estou muito focado, sigo extremamente focado no cenário nacional. O povo cearense me trouxe para o Senado. Estou me dedicando de corpo e alma, no limite das minhas forças, com toda a limitação e imperfeição que sei que tenho, estou aprendendo todo dia, mas procurando fazer um mandato transparente. O que o político tem, que acho que são os valores principais, é a integridade e também a coerência, do que você pensa, fala e faz. Tenho procurado fazer isso. Todas as propostas da campanha (estou) procurando colocar em prática: transparência no mandato, um mandato econômico, enxuto, que tem dado produtividade, tem trazido inclusive benefícios para o Estado também.

Fizemos um convênio com a Procuradoria Geral da República e o Ministério Público do Ceará para que cada emenda que a gente conseguisse, de uma forma ou de outra, das impositivas, de bancada e tudo, fosse fiscalizada por eles. Temos procurado atender os municípios, de uma forma sem interesse, político-eleitoreiro. Municípios em que até tivemos pouquíssimos votos na eleição estão sendo atendidos. O critério não é esse, o critério é ajudar a todos, apoiar, receber a todos.  

O cenário local também é importante. Tenho me desdobrado entre Brasília e Fortaleza e o Estado do Ceará, e procurado atender a todos indistintamente de questões políticas. Então, para mim, não tem esse negócio de adversário, recebo todo mundo e estou disposto a ajudar. Tanto é que no Governo do Estado do Ceará, muitas vezes fui acionado pela Secretaria da Fazenda, Dra. Fernanda (Pacobahyba), para ajudar na questão dos recursos do Governo Federal para o Estado do Ceará, reposição de perdas de arrecadação. (...) Tenho ajudado o  Ceará na saúde também, com o secretário Cabeto, fazendo esse intercâmbio, essa mediação com o Ministério da Saúde, habilitação das UTIs, respiradores, tudo isso.

Tenho procurado ajudar com o que posso, na forma em que sou acionado. Na bancada, com os colegas deputados, senadores, procurando fazer o nosso trabalho, sabendo que temos muito ainda a fazer. Mas sempre de olho no cenário e esperando renovação, esperando mudança nas duas esferas, tanto lá no Legislativo, em que estou, como também no Executivo estadual, no municipal, esperando mudanças. Porque é bom a alternância de poder, sob todos os aspectos, em todas as esferas governamentais. 

FONTE DN

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