sexta-feira, dezembro 06, 2024

AS ESTRATÉGIAS E AS FALHAS DE CAMPANHA DE SÉRGIO RUFINO EM 2024

Sérgio Rufino até janeiro desse ano acreditava que teria mais uma eleição fácil em Ipu mediante a desarticulação da oposição. Mesmo tendo perdido a eleição para governador em Ipu de 2022 ao apoiar Roberto Cláudio, e vendo que a oposição havia mostrado força com seus candidatos a deputado e se abraçado com a candidatura vitoriosa de Elmano de Freitas para o comando estadual com o PT, Rufino seguia com uma mescla de autoconfiança e soberba. 

A perda de influência junto ao governo estadual

As inevitáveis escolhas políticas de Sérgio Rufino em 2022 ao ser coordenador regional de campanha de Roberto Cláudio (PDT) ao governo e trocar Augusta Brito (PT) que fora apoiada por ele em 2014 e 2018 para deputada estadual, pelo cunhado Cláudio Pinho (PDT) - também considerando o resultado das eleições governamentais - o distanciaram do empoderado núcleo de comando do PT encabeçado pelo Senador Camilo Santana. Nesse sentido, a margem de manobra do agropecuarista "socialista" junto aos caciques estaduais ficou muito minguada em se tratando do tabuleiro político ipuense. Ademais, se desenhara uma nítida disputa de poder na região entre a agora Senadora Augusta Brito e Sérgio Rufino com suas ingerências nas sucessões municipais. 

Ele esperava Diego como candidato da oposição

Em sua estratégia, o chefe do grupo de situação acreditava que Diego Carlos que agora era o neolíder do PT na cidade, o qual já vinha de três derrotas eleitorais consecutivas para ele, seria, mais uma vez, o dócil candidato da oposição. De posse do também governista PSB, o ex-prefeito de Ipu em nenhum momento fez movimentos bruscos para tentar neutralizar o PT em Ipu, inviabilizando uma iminente quarta candidatura do filho do ex-prefeito Zezé Carlos. 

O fator surpresa Lindbergh

Com um grupo político ainda coeso, mesmo sabendo que haviam descontentamentos com o monopólio de poder da sua família, Sérgio não via do lado da oposição nenhum fato novo que o tirasse da zona de conforto eleitoral. Mas acabou sendo pego no contrapé, quando em uma jogada rápida, rasteira e certeira, o prefeito de Jijoca de Jericoacoara Lindbergh Martins uniu as alas da oposição, cooptou vereadores de peso do grupo situacionista e ainda se conectou com o governo petista via Senadora Augusta Brito. 

Ato contínuo, Sérgio acusou o golpe e demonstrou contrariedade em seus instáveis pronunciamentos e teve que rever os seus planos e montar estratégias emergentes para o pleito municipal. 

Teve que ser o candidato

O prefeito Robério Rufino teve que ser sacado da sua natural tentativa de reeleição por seu tio. Com um páreo duro pela frente e com as limitações de comunicação do sobrinho, Sérgio teve que ser o cabeça de chapa até como forma de dar mais confiança ao seu grupo mediante uma oposição mais articulada e com estrutura econômica nunca vista antes nas outras eleições que disputou. 

A dificuldade em achar uma Vice

Em um primeiro momento, o ex-prefeito de Ipu ainda tentou se aproximar de Diego Carlos e de sua mãe Toinha, vendo a possibilidade de tê-los na Vice de sua chapa. A procura foi tarde demais, os Carlos e Lindbergh Martins já tinham se alinhado de maneira irrefutável e com as bençãos do Senador Camilo Santana (PT). 

Mediante a chapa de oposição ser feminina (Milena e Arlete), era imprescindível que a vice do PSB também fosse uma mulher. De fevereiro até o inicio de agosto, Sérgio Rufino bateu a porta de empresários e de políticos (inclusive da oposição) com suas esposas, em busca de uma vice mulher como companheira de chapa. Sem saída, teve que se contentar com uma vice vinda do seu próprio grupo político, a quase desconhecida Betina esposa do ex-vereador Evaldo. Essa escolha em nada agregou a seu grupo e em nada enfraqueceu a chapa de oposição. 

Discurso ultrapassado contra Sávio Pontes

O eleitorado de Ipu mudou e não é mais aquele de 2012, 2016 e até de 2020. São novos anseios, novas demandas e novos atores sociais. A narrativa do grupo rufinista era colocar o ex-prefeito Sávio Pontes como o líder e articulador da oposição e que estaria buscando indiretamente voltar ao poder. Não colou! Todos sabem que o líder Lindbergh Martins e sua esposa Milena, tinham luz própria e que Pontes, apesar do parentesco, era um coadjuvante e não protagonista do projeto de campanha da oposição.

Não fiz e agora vou fazer

Tentando fazer aquilo que não é uma expertise sua, o candidato Sérgio Rufino fez uma imersão nas redes sociais e até no seu desvalorizado meio radiofônico. Através de lives e entrevistas, ele, sempre pecando pela ausência de carisma, buscava contraditoriamente prometer mudanças em setores administrativos que suas duas gestões e a de seu sobrinho prefeito falharam copiosamente. 

Fazer um pronunciamento de mea-culpa sobre falhas nos doze anos de comando sobre o Ipupoderia ser também um atestado de incompetência. Ilariante, por exemplo, foi uma das lives dedicadas ao turismo fazendo uma série de promessas sobre algo que nunca teve vocação para fazer. 

Por fim, foi um marketing ao estilo enxugar gelo, ainda mais com uma gestão cansada e previsível que estava no poder. 

Um exótico Bigode

Entre as muitas situações sem ou com pouca saída para Rufino, estava a busca de algo que lhe trouxesse uma identificação carismática. Era necessário se contrapor com o carisma da bela e jovem candidata Milena Damascena (PT) com a frase apelativa “Vai dar Praia”, a qual agregava sol, diversão e alegria. Restou à Sérgio Rufino o simbolismo do seu exótico bigode. Não foi uma boa ideia, pois o símbolo escolhido tem sua relação com a imposição da masculinidade e isso dentro de uma campanha onde as mulheres tinham o epicentro na oposição. 

Discurso nervoso

O emocional do líder Sérgio Rufino não estava dos melhores. Acuado pelas dissidências de vereadores e lideranças que o abandonaram por falta de espaço político, e pela primeira vez sendo realmente testado em uma eleição municipal bem como tendo que conviver com a “preferência de voto” para a oposição, o homem do “Bigode” caiu em campo buscando reverter uma derrota que se desenhava. 

Nos palanques o líder demonstrou ira contra os opositores ao invés de serenidade para seus (ou quase) eleitores. Usando termos desabonadores como “farofeiros” e “borra de café” com os seus não eleitores, ele ainda usou expressões pesadas como “fechar o caixão” e “enterrar a oposição” nos ataques aos seguidores do PT de Ipu. Sinais de um menino zangado que tinha perdido (ou estava perdendo) o brinquedo chamado poder. 

Faltaram apenas 552 votos?

Com apenas 1.102 votos de maioria para a candidata vencedora, certamente no cálculo da matemática alguém vai dizer: “Faltou 552 votos vindos de lá para Sergio Rufino ter vencido”. Mas a matemática eleitoral é diferente: não faltou só esses 552 e sim os 4.725 votos de maioria que o Clã Rufino teve nas eleições municipais de 2020. Os erros de gestão (veja postagem anterior no Blog) e o centralismo e a soberba política de Sérgio Rufino fizeram esses quase 5.000 votos se evaporarem. 

O ponto de inflexão para os Rufinos em meio as lições dadas por essa eleição é de que eles foram muito incompetentes, pois não se sai de uma eleição com 21% de maioria (4.725 votos) para uma outra quatro anos depois em que se perde com 3,9% para uma candidata que surgiu de surpresa na política local. A grosso modo, Sérgio-Tião-Zeca-Robério perderam praticamente 1/4 (25%) do antes eleitorado rufinista de Ipu.

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