quinta-feira, dezembro 05, 2024

OS PROBLEMAS E ERROS DA GESTÃO MUNICIPAL QUE LEVARAM À DERROTA DOS RUFINOS

Para onde foram os 4.725 votos de maioria que o Clã Rufino teve nas eleições municipais de 2020? 

Uma eleição municipal no molde interiorano ipuense não se perde necessariamente nos últimos dias que a antecedem, mas sim nas tomadas de decisões (ou a ausências delas) antes mesmo do percurso da campanha, considerando também que aqui tratamos da derrota de um grupo situacionista que comanda a prefeitura. 
 
Grupos que estão no poder, em tese, quase sempre perdem para si mesmo. No caso do Clã Rufino que estava no comando do Ipu há 12 anos, observando o poder financeiro que a máquina pública municipal tem, perdem por uma série de fatores negativos os quais a maior parte poderiam terem sido anulados ou atenuados. 

Afora problemas congênitos como o tempo de poder que já traz um desgaste natural a qualquer grupo dominante e o próprio jeito de ser do líder político Sérgio Rufino – nitidamente com ausência de carisma e com traquejos autoritários, vejamos agora outros fatores que pesaram para a derrota:


A previsibilidade:  O teórico terceiro mandato de Sérgio Rufino, não conseguiu sair do "mais do mesmo": asfalto, calçamento, pracinhas e piçarramentos nas estradas sertanejas. Nenhuma inovação, nenhum projeto que colocasse a gestão ou o Ipu com protagonismo regional foi apresentado. Em sua zona de conforto, Sérgio acreditava que anunciar "emendas parlamentares" com suas viagens à Brasília o colocava como um politico empoderado e preocupado com os "recursos" para o município, achando assim que isso era o maior diferencial do Ipu sobre o seu comando. 

O familiarismo: Irmãos e sobrinhos sempre estiveram em posição de comando na maioria das pastas e orgãos municipais, não esquecendo também dos anos de monopólio que Zeca Rufino exerceu sobre o comando da Câmara Municipal. Isso, com o tempo, se tornou um fardo que desgastou o grupo mandatário do Ipu. O cansaço do povo Ipuense com as mesmas caras de sempre e ainda buscando uma perspectiva de 16 anos no poder, também refletiu nas urnas. Faltou coragem para "Desrufinar" a gestão e oxigenar várias áreas da administração com sague novo. 

Os pertinentes gargalos da gestão:  Os muitos relatos de mal acolhimento/atendimento no Hospital Municipal, as constantes e não solucionáveis crises de abastecimento de água pelo SAAE, a falta de acesso e comunicação do Secretaria de Transporte, o desleixo com a Secretaria de Cultura, o fechamento por vários anos do Mercado Público, o Esporte resumido a simplórios campeonatos de futebol, e o centralismo de poder nas mãos do chefe de Gabinete Tião Rufino, também tiveram suas colaborações para o aumento do eleitorado de oposição. 

A querela dos concursados: Durante 11 anos, os Rufinos travaram uma guerra jurídica com mais de 500 concursados nomeados no final de 2012 pelo então prefeito Sávio Pontes. Exonerados logo no início do seu primeiro mandato, Sérgio Rufino se desgastou com grande parte desses propensos servidores públicos, usando de vários meios advocatícios pra impedir a posse destes no emprego. Essa querela chegou a um veredicto final no STF em Brasília exatamente nesse ano eleição em que Sérgio seria novamente candidato. Derrotado e tendo que engolir a posse destes, Rufino certamente foi vítima da vingança de muitos destes (incluindo seus familiares) na solitária cabine eleitoral. 

Falta de empatia com o eleitorado jovem - Sérgio Rufino tem sérios problemas de comunicação. Lhe falta carisma e o seu jeito turrão lembra os coronéis da República Velha. O líder maior dos Rufinos, assim como seus irmãos e o sobrinho Prefeito Roberio, ainda fazem política como se tivessem em 2012.... 2016, ou seja, batendo nos erros dos opositores e esquecendo de novas propostas. Sem projetos voltados para o protagonismo dos jovens ipuenses (estudantes secundaristas, universitários, propensos empreendedores e muitos destes sem perspectiva de trabalho na cidade....), os Rufinos foram duramente penalizados por esses quase 2/3 do eleitorado.

Distanciamento do povão: Sérgio Rufino em sua zona de conforto nunca fez uma aproximação mais incisiva dos setores populares e, em especial, dos mais carentes. Essa sua postura era seguida por vários dos seus secretários. Na prática nunca houve uma Ouvidoria Municipal, pois este cargo era preenchido por apadrinhados/familiares de vereadores ou suplentes. Não havia uma "escuta" para ser filtrada e analisada as insatisfações pertinentes.
Esse distanciamento foi preenchido pela rádio de oposição (FM Cidade - Programa Fatos em Debate com Hélio Lopes e Equipe), a qual também utilizando as redes sociais potencializava os reclames contra a gestão. 

O engodo do salário em dia: Fundamental nas eleições passadas, o discurso do salário pago em dia mediante os atrasos nas gestões anteriores a sua chegada ao poder em 2012, foi deixando de ser um capital eleitoral para os Rufinos. Os servidores foram jogados de lado ao longo dos anos, pois não se criou uma campanha de valorização salarial com bonificações, progressões, ganhos salariais acima da inflação e reajustes anuais para as categorias que ganham acima do salário mínimo. Para ser dado o único rateio do Fundeb (em 2021, no pós-pandemia), por exemplo, foi uma verdadeira novela e vinda com um anúncio sobre pressão após todos os municípios vizinhos já terem concedido.  

A Bica do Ipu fechada: Com acesso proibido para uma reforma no início de 2020, a maior identidade afetiva do povo ipuense foi vítima da falta grotesca de planejamento e de cuidado estratégico em um ponto tão delicado, agravado pelo fato do turismo já ter sido apagado nos dois primeiros mandatos de Sérgio Rufino. As trapalhadas na condução da obra com seu calendário de entrega constantemente desrespeitado, ainda mais para uma obra discreta e nada inovadora para o nosso maior cartão-postal, viraram uma espécie de vergonha municipal para o ipuense. Era comum vermos nas redes sociais as críticas de vários turistas do Ceará e até do país, que se decepcionavam ao serem proibidos de visitarem o "véu de noiva do Ipuçaba". Em pleno ano da eleição a incompetência ainda reinava com uma obra entregue pela metade e com seu restaurante ainda fechado para o público.  

Mídia apagada: É lógico que a gestão municipal tinha lá suas virtudes. Mas estas não foram massificadas para a população. Avanços quando ocorreram não foram devidamente explorados. Não havia uma coesão de narrativas, algo que é básico em todo marketing. As redes sociais eram desconectadas de outras mídias como o ainda essencial rádio. E por falar em rádio; as duas emissoras do grupo de situação (AM Iracema e FM Liberdade) nunca foram devidamente otimizadas para os feitos da Prefeitura, ademais os programas eram fracos de conteúdo e com apresentadores sem muito preparo e desprovidos de uma conexão com as ações das secretarias. 

Robério, um gestor limitado: Quando Sérgio Rufino colocou seu desconhecido sobrinho Robério como candidato em 2020, todos sabiam que o mesmo seria apenas um prefeito protocolar a serviço dos tios. Tímido e com um simplório vocabulário, Robério não acrescentou nada de novo a sua teórica passagem pela prefeitura. Sem luz própria, a postura social comedida e com pronunciamentos nada condizentes com aquilo que se espera de um chefe de executivo de uma cidade tradicional como o Ipu, o sobrinho em nada contribuiu para uma possível vitória do tio. Diferentemente de muitos gestores em evidência na nossa região que usavam as redes sociais para se comunicar com seus munícipes, Robério se sentia totalmente desconfortado quando tinha que usar esse tipo de mídia. 

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