Primeiro, porque Bolsonaro aposta no confronto e testa os limites das instituições desde o início de seu mandato. Essa é a essência de sua estratégia política — e foi com ela que o ex-capitão ascendeu do baixo clero da Câmara à Presidência da República. Segundo, porque Bolsonaro sempre seguiu a seguinte lógica: quanto mais fraco está, mais agressivo fica. E Bolsonaro nunca esteve tão fragilizado. Segundo as pesquisas, o apoio popular ao presidente e à sua administração estão derretendo desde o fim do ano passado.
Um levantamento encomendado pela XP mostrou que a reprovação ao governo subiu para 54%, enquanto a aprovação caiu para 23%. Uma estimativa dimensiona o tamanho da erosão: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, costuma dizer que Bolsonaro precisa de pelo menos 40% de aprovação para ter chances de ser reeleito. Hoje, o presidente perde de todos os adversários nas simulações de segundo turno, conforme a sondagem da XP. Ciro Nogueira e outros assessores presidenciais estão tentando costurar um armistício com o Judiciário e o Legislativo enquanto Bolsonaro ataca ministros do STF e pressiona parlamentares.
Em suas missões de paz, Ciro Nogueira e companhia alegam que o presidente não tem pretensões golpistas e que suas declarações de guerra têm o objetivo apenas de manter a sua base de apoio mais fiel arregimentada. Nada além disso. Apesar da queda nas pesquisas, Bolsonaro ainda tem apoio popular que lhe assegura certa proteção contra pedidos de impeachment e que, se a eleição presidencial fosse fosse hoje, lhe garantiria uma vaga no segundo turno. A ação dos bombeiros palacianos produziu alguns efeitos temporários. Exemplo: perdeu força na CPI da Pandemia a ideia de convocar o ministro da general Braga Netto, e de reconvocar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
A dificuldade dos bombeiros está no fato de eles — por mais que trabalhem e recorram ao diálogo — não conseguirem conter o responsável pelos incêndios. Bolsonaro sempre elege um inimigo de ocasião, parte para o ataque com o auxílio de sua milícia digital e mergulha o país na crise da vez. De uma semana para a outra, só muda o motivo alegado para a briga. Já foi a pandemia. Já foi o voto impresso. Agora, são as decisões da dupla Barroso e Moraes. Logo, haverá um outro inimigo real ou imaginário a ser batido. O importante é manter o estado de beligerância e a fantasia segundo a qual o presidente não tem descanso em sua luta contra o sistema. “Estamos gastando energia enxugando gelo. Quem briga não constrói”, resumiu um ministro do STF a VEJA. Ele tem razão. Na sexta-feira, Bolsonaro suspendeu a trégua momentânea e apresentou ao Senado o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes.
Revista Veja
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