quinta-feira, fevereiro 20, 2014

CAMILO SANTANA PODERÁ SER A ÚLTIMA CARTADA DE CID NA SUCESSÃO


VEJA A INTERESSANTE ANÁLISE DE ÍTALO CORIOLANO:
Quem acompanha a carreira política do governador Cid Gomes (Pros) sabe que ele é um estrategista de mão-cheia. Dono de paciência singular, ele espera os movimentos de seus opositores para só então mexer as peças de seu xadrez com jogadas quase sempre surpreendentes. De deixar seus adversários sem muita opção de escolha. A primeira fase de sua estratégia foi um tiro certeiro no alvo. PSB e PR mostraram suas armas para a disputa, apresentando os nomes, respectivamente, de Nicole Barbosa e Roberto Pessoa. Cid observa, dá um riso de canto de boca. Nada que lhe dispense muita energia. Coube ao irmão Ciro Gomes o comentário mais ácido. “O que reúne esse grupo aí é o cimento do ódio”, disparou.

A partida continua fácil. Atenções exclusivamente direcionadas para sua administração e as dezenas de obras que ele corre contra o tempo para tentar concluir. “Quem me dera mais seis meses de governo...”, tem dito o chefe do Executivo.

Entre um cafezinho e outro, o susto. Eunício Oliveira (PMDB), o senador que ele ajudou a eleger em 2010 e que conseguiu expressivos 2,6 milhões de votos, se coloca quase que de forma definitiva na disputa pelo Governo do Estado. No jornal, Cid lê em letras garrafais: “Eunício será candidato independente do apoio de PT e Pros, diz Raupp”. Trata-se de Valdir Raupp, presidente nacional do PMDB. É hora de fazer uma visita a Brasília.

Primeiro, uma reunião com o futuro ministro chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, que, à época, ainda comandava a pasta da Educação. Em seguida, encontro com a cúpula do Pros, seu novo partido. O tema da conversa era a participação do grupo no Ministério sob reforma da presidente Dilma Rousseff. Estava quase tudo certo para a legenda recém-criada ficar com o cobiçado Ministério da Integração Nacional. Mas eis que Cid faz toda a comitiva ficar de olhos arregalados ao ignorar o espaço oferecido. Segundo ele, a indicação de um nome para o staff petista não é de longe uma prioridade. A aliança, garante, é ideológica. “Nunca tive o menor apetite por ministério”, declarou.

Não demorou muito para a presidente Dilma, de audição perfeita, chamar o senador Eunício Oliveira para uma conversa com Mercadante. E colocar em suas mãos o comando do Ministério da Integração Nacional. Isso pouco tempo depois de o PMDB espernear pela vaga e a própria comandante do Palácio do Planalto afirmar que ela era inegociável. O parlamentar cearense agradeceu o convite, mas rejeitou a oferta, deixando mais do que claro que não pretende recuar do projeto de chegar ao Palácio da Abolição. “Não seria correto ficar inelegível”, justificou.

Como todo bom jogador, entretanto, Cid Gomes tem uma carta na manga. Um plano B que já vem preocupando apoiadores, atuais e futuros rivais políticos. Ciente de que a superaliança que sustentou seu governo por sete anos está prestes a se esfarelar, ele trabalha para ao menos manter o PT sob seu guarda-chuva. Com uma candidatura do Pros isso ficaria bastante complicado, diante da ameaça do PMDB de abandonar a base da presidente Dilma, dificultando o projeto de reeleição. A saída seria, então, apoiar um nome do próprio Partido dos Trabalhadores. Mas não qualquer um. Alguém umbilicalmente ligado ao clã Ferreira Gomes. Conforme O POVO apurou, o perfil mais discutido é o do ex-secretário das Cidades Camilo Santana (foto). Vinculado ao deputado federal José Guimarães, que tem hoje ampla hegemonia dentro do PT do Ceará, Santana ajudaria Cid a matar vários coelhos numa cajadada só: isolaria Eunício Oliveira - que não teria mais como fazer ameaças e precisaria pensar duas vezes antes de se lançar na disputa-, manteria um palanque forte e, de quebra, barraria uma candidatura da arquirrival Luizianne Lins, que já se colocou à disposição do partido.

XEQUE-MATE CONTRA TASSO
Para resolver problemas internos, o governador teria de tomar uma atitude mais ousada: renunciar ao Governo em abril, convencer o vice Domingos Filho a seguir seus passos - prometendo-lhe o mesmo espaço na chapa de Santana -, e dar alguns meses de poder para o membro do Pros mais empenhado atualmente em ocupar seu lugar, o presidente da Assembleia José Albuquerque.

Mas ainda faltaria o xeque-mate. Em um dos cenários, Cid estaria disposto a adiar os planos de se mudar para os Estados Unidos e trabalhar no Banco Mundial, topando uma candidatura para o Senado. Seria essa uma das únicas formas de evitar possível eleição do ex-aliado Tasso Jereissati (PSDB), que lidera todas as pesquisas já realizadas para a vaga que fica em aberto com o fim do mandato do senador Inácio Arruda (PCdoB).

Como se vê, uma total embaralhada no cenário sucessório cearense. Mas se apresenta como uma das saídas para a sobrevivência do atual projeto não ficar em risco. Em nome dessa continuidade, podem ter certeza, Cid Gomes não medirá esforços. Racionalidade e perspicácia não lhe faltam.

TEXTO DE ÍTALO CORIOLANO 

2 comentários:

Anônimo disse...

É um conto bastante interessante, só gostaria de chamar atenção dos senhores que trata-se de uma narrativa de fatos humanos, e como tal, de pouca previsibilidade. Será que o mago Ítalo, consultou seu tarô? A política adota uma dinâmica muito particular, não enxergo no Cid Gomes o trato de cuidar das relações humanas, de toda essa habilidade estratégica que lhe é atribuída, haja visto as mudanças de siglas nos últimos anos. Isto aponta para uma falta de habilidade, isto sim. Teremos um ano de muitos acontecimentos que podem alterar o quadro sucessório. Seja no campo nacional, ou no estadual. A política se alimenta de fatos, e eles podem ser para o bem, ou para o mal, é assim que funciona.

Gilberto disse...

Um comentário antigo e que acertou na mosca na estratégia para escolha dos candidatos. Errou em falar de Cid Gomes como de forma "humana", que seria o certo racional. Parabéns pela análise!