Lula está conversando com integrantes de diferentes partidos, até com os rivais históricos do PSDB, enquanto Bolsonaro fala cada vez mais para a sua base ideológica. A meta, conforme o ex-presidente mesmo diz, é manter o diálogo aberto com todos aqueles que estão comprometidos com a democracia — e que se opõem à retórica golpista do adversário. Nas conversas, Lula também se apresenta como o candidato capaz de redimir os políticos tradicionais, de combater o que ele chama de criminalização da política, enquanto Bolsonaro insiste em se vender como o nome contra o sistema, apesar de, entre tantas outras coisas, ter entregado o núcleo político do governo ao Centrão.
Um dos maiores partidos do país, o MDB está no meio do cabo de guerra entre os dois favoritos em 2022. A legenda não é da base de apoio de Bolsonaro, mas também não faz oposição a ele. Como de costume, está dividida em alas com interesses bem distintos. A velha-guarda do MDB do Senado prefere Lula. Importantes emedebistas de São Paulo estão próximos do governador João Doria (PSDB), pré-candidato à Presidência. Já emedebistas da região Sul e de estados com forte presença do agronegócio mantêm laços com o bolsonarismo. Com o jantar de quarta, Lula quer adular antigos aliados e, com a ajuda deles, garantir que o MDB — que em capilaridade e é muito forte nos rincões — não apoie nenhum de seus rivais em 2022. A sigla ainda não debateu internamente qual caminho seguir na próxima sucessão presidencial. Um nome de seus quadros, a senadora Simone Tebet (MS), tem sido testada nas pesquisas, nas quais aparece com 2% das intenções de voto.
A relação de Lula com a velha-guarda do MDB é antiga e duradoura. Dois exemplos são ilustrativos. Às vésperas da votação do impeachment de Dilma Rousseff pelo Senado, uma articulação entre petistas e emedebistas, com a participação do ministro do STF Ricardo Lewandowski, garantiu que a então presidente, mesmo após destituída, não perdesse os direitos políticos. Quando a Lava-Jato ganhou as ruas e ninguém sequer cogitava a prisão de Lula, o ex-presidente se reuniu com Eunício Oliveira, Renan Calheiros e José Sarney, entre outros, para dizer que a operação tentava criminalizar a atividade política e que só o Supremo Tribunal Federal (STF) poderia deter o então juiz Sergio Moro. O resto é história. Lula foi preso e depois solto com base em entendimentos do STF. Eunício Oliveira não conseguiu se reeleger para o Senado na última eleição. Emedebistas históricos ficaram sem mandatos e com uma série de problemas na Justiça.
Fonte: Veja
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