quarta-feira, outubro 19, 2022

POR QUE AS PESQUISAS PARA PRESIDENTE NÃO ERRARAM POR COMPLETO - TENDÊNCIAS NÃO SÃO PROGNÓSTICOS

O resultado das urnas, no dia 2 de outubro, mais uma vez reacendeu a polêmica envolvendo as pesquisas eleitorais. O que circulou nas redes sociais nessa última semana foi a tentativa da criminalização de levantamentos estatísticos e institutos que há anos atuam no mercado e na política. Um projeto que criminaliza as pesquisas que erram está sendo votado com brevidade no Congresso desde a noite de ontem (18/10) 

O grande questionamento se dá em torno da diferença do que apontavam os números de institutos de pesquisa quanto às intenções de voto na candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PL). Para muitos, houve fraude na tentativa de esconder a preferência do eleitorado do presidente da República. Para outros, os quais me incluo, elas acabam influenciando tendenciosamente eleitores em cima de uma propaganda equivocada de prognósticos feita pela grande mídia.  

ESTATÍSTICA NÃO É MATEMÁTICA 

O (e)leitor, ao esperar que uma pesquisa lhe entregue o percentual exato do resultado eleitoral, encontrará sempre uma frustração no caminho. Ou quase sempre. A estatística não é matemática. O compromisso é outro. 

A estatística trabalha probabilidades, faz previsões, indica tendências. Nesse processo, há várias maneiras de obter essas informações. Teorias são aplicadas para garantir uma avaliação científica e segura para o contratante. Não existe pesquisa estatística sem o amparo teórico. Fora isso, não é estatística. 

Não é nada simples transmitir ao grande público o que é margem de erro, nível de confiança e metodologia. Podemos falar em erro de pesquisa? É um campo infinito a explorar. 

AS TENDÊNCIAS FINAIS NO PRIMEIRO TURNO

Se recorrermos aos institutos sérios que publicaram levantamentos para as eleições presidenciais no primeiro turno, não é honesto apontar "erro" por não haver exatidão no que revelaram as urnas. 

Na véspera da eleição, o Ipec, contratado pela TV Globo, indicava Lula (PT) com 51%, Jair Bolsonaro (PL), com 37%, Ciro Gomes (PDT), com 5% e Simone Tebet (MDB), com 5%. O cenário, portanto, em votos válidos. Antes, no dia 26 de setembro, o mesmo instituto dizia que Lula (PT) tinha 52% e Bolsonaro (PL) aparecia com 34%. 

No intervalo de cinco dias, o petista oscilou para baixo e o presidente subiu 3 pontos percentuais. A leitura que se pode fazer é a existência de uma tendência de crescimento por parte da candidatura do presidente da República – o que acabou se confirmando. Inclusive com a redução nos índices de Ciro e Tebet, que encerraram com 3% e 4% respectivamente. A avaliação que se pode fazer é uma migração ainda no primeiro turno dos votos que seriam dados na senadora e no ex-ministro. Do ponto de vista da estatística, é extremamente natural que essas movimentações ocorram. Não é de hoje que esse fenômeno é percebido. 

TENDÊNCIAS CONFIRMADAS 

Se a tendência captada pelo instituto estava de fato acontecendo, o índice final (matemático) de Lula (48%) e Bolsonaro (43%) é completamente previsível dentro do que os números estavam indicando na semana anterior do primeiro turno da eleição – considerando a margem de erro. O petista contou com 2,07 pontos percentuais a menos do que a média das duas pesquisas — dentro da margem de erro, vale ressaltar — e o candidato à reeleição teve 6,7 pontos além do que projetavam os levantamentos. O crescimento de Bolsonaro foi o ponto destoante e não mensurado com mais precisão. 

Embora o instituto não tenha cravado os números – já que nunca foi obrigação do levantamento – os estatísticos responsáveis pelo estudo acertaram a tendência de vitória do Lula na disputa de domingo (2). O voto útil que estava sendo demandado pela campanha do ex-presidente petista também funcionou para a candidatura de Bolsonaro. 

SENADOR, UM VOTO COM ALTA MARGEM DE ERRO

É claro que em uma disputa com muitos candidatos e um índice ainda alto de indecisão, como é o caso em pleitos para o Senado, a movimentação pode ser mais espaçada, mas sempre precisa ser observada do ponto de vista da tendência, do que os números estão indicando. 

A surpresa  que mais chamou a atenção ocorreu em São Paulo: Márcio França (PSB), o aliado de Lula nessas eleições, teria 45% dos votos, caso o Datafolha da véspera se confirmasse. Marcos Pontes (PL), o astronauta e também ex-ministro de Bolsonaro, que tinha 31% das intenções do eleitorado, foi quem conquistou a vaga de representação do estado com 49,68% dos votos válidos. 

No Rio Grande Norte, Rogério Marinho (PL) venceu com 41,85% Carlos Eduardo (PDT) que ficou com 33,40%. Antes, a pesquisa IPEC apontava a vitória  de Carlos Eduardo com 40% contra 29% do candidato Bolsonarista. Esse resultado em muito lembra a polêmica inesperada vitória de Eduardo Girão sobre o poderoso Eunício Oliveira em 2018 no Ceará. 

SOU FAVORÁVEL A NÃO DIVULGAÇÃO NA SEMANA FINAL

Mesmo apesar do argumentado aqui, sou favorável que essas pesquisas de tendências e que refletem um retrato daquele momento de amostras colhidas, sejam sim reguladas. Países democráticos como a  França, por exemplo, já assim fazem nos três últimos dias antes das eleições. 

Mas por que isso precisa ser feito? 

Por que devido a maneira como a grande mídia as exploram em seus noticiários, fica claro que elas passam uma mensagem errática e perigosa sobre os votantes indecisos e àqueles não ainda totalmente convictos sobre em quem sufragar. Basta usarmos uma simples questão elementar: o eleitor brasileiro, em um universo significativo e em qualquer pleito, tem uma tendência a dar um "voto útil", ou seja, não votar para perder.


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