terça-feira, julho 13, 2021

PROTESTOS EM CUBA: TRÊS PONTOS QUE JUSTIFICAM A CRISE DA "ILHA COMUNISTA"

Milhares de cubanos saíram às ruas no domingo (11) no que já é o maior protesto da história recente no país. 
Pela primeira vez em mais de 60 anos, pessoas protestaram em cerca de 20 vilarejos e cidades em toda a ilha gritando "liberdade" e "abaixo a ditadura". 

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, fez um pronunciamento em que acusou os manifestantes de serem financiados pelos Estados Unidos e convocou militantes do Partido Comunista a enfrentá-los: "Haverá uma resposta revolucionária. Estamos convocando todos os revolucionários do país, todos os comunistas, para que saiam às ruas em todos os lugares onde ocorram essas provocações."

Como, então, explicar que milhares de cubanos tenham saído às ruas por toda a ilha? Há três pontos chave para entender esta crise:

1. A CRISE DO CORONAVÍRUS 

Os protestos na ilha parecem ser resultado de esgotamento acumulado da população. Esse esgotamento aumentou nos últimos meses com uma das maiores crises econômicas e de saúde que a ilha viveu desde o chamado "período especial" (a crise no início dos anos 1990 após o colapso da União Soviética).
A ilha manteve a pandemia sob controle nos primeiros meses de 2020, mas houve um recrudescimento de casos nas últimas semanas que a levou a estar entre os locais com mais casos registrados em relação à população na América Latina.
Somente no domingo (11/07), a ilha registrou oficialmente 6.750 casos e 31 mortes, embora vários grupos de oposição denunciem que os números não refletem a situação real e que muitas mortes por Covid-19 são atribuídas a outras causas.
Durante a última semana, o país quebrou seus recordes diários de infecções e mortes, o que levou, segundo relatórios, ao colapso de vários centros de saúde. A BBC News Mundo falou nos dias anteriores com vários cubanos que afirmaram que seus parentes morreram em casa sem receber atendimento médico ou em hospitais por falta de remédios.

Em seu pronunciamento à nação, o presidente cubano considerou que a situação atual é igual à de outros países e que chegou tarde a Cuba porque antes o governo havia conseguido controlar o vírus. Também destacou que Cuba produziu suas próprias vacinas contra o coronavírus, embora a administração das doses ainda seja limitada na maioria das províncias.

2. A SITUAÇÃO ECONÔMICA
O coronavírus teve um profundo impacto na vida econômica e social da ilha. O turismo, um dos motores da economia cubana, está praticamente paralisado. Além disso, há inflação crescente, apagões, escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos.
No início do ano, o governo propôs um novo pacote de reformas econômicas que, ao aumentar os salários, fez disparar os preços. Economistas como Pavel Vidal, da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, estimam que podem subir entre 500% e 900% nos próximos meses.

Dada a falta de liquidez em moeda estrangeira, o governo promoveu desde o ano passado a criação de lojas onde só se pode comprar com contas em moedas livremente conversíveis (MLC). Alimentos e bens de primeira necessidade são vendidos em moedas nas quais a população não recebe seu salário.
A pandemia também foi sinônimo de longas filas para os cubanos comprarem produtos como óleo, sabonetes ou frango, e cortes de energia tornaram-se cada vez mais frequentes. Os medicamentos básicos tornaram-se escassos tanto nas farmácias como nos hospitais, e em muitas províncias houve a venda de pão à base de abóbora por falta de farinha de trigo. Os cubanos entrevistados na semana passada pela BBC News Mundo afirmam que em alguns centros médicos não há nem aspirinas para reduzir a febre. Enquanto isso, também houve surtos de sarna e outras doenças infecciosas na ilha.

No mês passado, o governo decidiu deixar de aceitar "temporariamente" dólares à vista, principal moeda que os cubanos recebem nas remessas, medida que é vista pelos economistas como a mais restritiva imposta à divisa americana desde que foi penalizada pelo governo de Fidel Castro.

3. ACESSO À INTERNET
Antes deste domingo, o maior protesto ocorrido em Cuba após o início da revolução de Fidel Castro, de 1959, havia acontecido em agosto de 1994 em frente ao Malecón de Havana. Cubanos em outras províncias nem sabiam o que havia acontecido na capital.

Hoje, grande parte da população, principalmente os jovens, tem acesso ao Facebook, Twitter e Instagram, que também são seus principais canais de informação sobre o discurso oficial da mídia estatal. O acesso à internet também levou ao surgimento de vários meios de comunicação independentes que se debruçam sobre assuntos que geralmente não apareciam na mídia oficial. Estes novos canais se tornaram o canal para que artistas, jornalistas e intelectuais reivindiquem seus direitos ou convoquem protestos.

O governo cubano garante que as redes sociais são utilizadas pelos "inimigos da revolução" para criar "estratégias de desestabilização" que seguem os manuais da CIA.

Cuba enfrenta um cenário sem precedentes de manifestações e repressão policial. Será preciso observar nos próximos dias como o governo — e os cubanos — vão reagir. E, embora para muitos os protestos fossem um tanto previsíveis, o que deve acontecer agora é incerto.
com informações do G1

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