Nas datas cívicas do Brasil, existem rótulos históricos e meias verdades que já foram estabelecidas nos livros, fixadas em calendário como feriado nacional e comemoradas exaustivamente no último século. Há quem diga que a ideologia nazista na qual afirmava que “uma mentira dita repetitivamente acaba se tornando uma verdade” se aplica muito bem no Brasil. Uma dessas datas questionáveis pela Nova História brasileira é o episódio do Grito do Ipiranga, ou seja, o 7 de setembro de 1822, quando o príncipe Dom Pedro declarou oficialmente que estávamos livres de Portugal. Mas será se foi isso mesmo que aconteceu?
O Brasil já não tinha relações comerciais diretas com Portugal desde 1808, quando a Família Real lusitana aqui chegou fugindo das tropas do francês Napoleão Bonaparte.
A Coroa, pressionada pelos ingleses, decretou a abertura dos portos, nos libertando do pacto colonial (exclusividade comercial de Portugal sobre o Brasil). Daí em diante, houve uma dinamização econômica já na ex-colônia e a montagem de um estado nacional aqui nos trópicos, caracterizando uma acentuada mudança política nos rumos de nossa história.
Findada as guerras napoleônicas, a família real teve que voltar para a Europa em 1821, mas o Rei Dom João VI, percebendo o processo de independência de nossos países vizinhos, deixa seu filho Dom Pedro como príncipe regente, tentando já projetá-lo como futuro imperador do Brasil, em meio aos crescentes interesses dos latifundiários e ingleses em não restabelecerem o pacto colonial.
Em meio às pressões das cortes portuguesas, para que o Brasil voltasse a ser colônia, Dom Pedro, no auge dos seus 24 anos e apoiado pela classe dominante, disse “Independência ou Morte!” e pronto: ganhamos uma data cívica com desfiles militares, discursos presidenciais, feriadões e acidentes nas estradas. Mas... e o Brasil se tornou de fato independente?
Primeiro de tudo, nos libertamos de Portugal, mas não dos portugueses. Os cargos públicos mais importantes, o poder judiciário e a cúpula do Exército estavam todos ocupados por portugueses. As únicas coisas nacionais nessa história eram as mais de trinta amantes do jovem monarca e a cachaça pernambucana que ele “comia com farinha” no Cabaré da Rua das Violas. E o mais agravante era que o próprio imperador era português e herdeiro direto do trono do seu país de nascimento, o que deixou o Brasil correndo o risco real de voltar a ser colônia a qualquer momento.
Durante os nove anos do Primeiro Reinado, o país mergulhou numa crise política provocada pelo autoritarismo de Dom Pedro I com suas guerras desnecessárias e o envolvimento com a sucessão do trono português. O país passou a ter dois partidos, o brasileiro e o português, sendo que este último era de elementos estrangeiros (isso mesmo, português era sim estrangeiro!) que defendiam o despotismo do rei. E se tivesse futebol naquela época, o Brasileirão seria manipulado para o Vasco da Gama vencer todo ano.
A aristocracia rural brasileira só conseguiu se libertar da praga lusitana quando usou o povão para agitar o país, em especial a capital Rio de Janeiro, e promover o quebra-quebra necessário para Dom Pedro e sua corja irem embora de nosso país no dia 7 de Abril de 1831. Essa mania das elites daqui usarem a plebe para atingir seus objetivos é bem antiga.
Antes que você, que está lendo esse artigo, queira apedrejar, venho deixar claro que não quero acabar com o feriadão do 7 de setembro. Quero, na realidade, transferi-lo para o 7 de abril, pois essa data é que, de fato, representa a verdadeira independência do Brasil em relação a Portugal.
Prof. Kléber Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário