Depois de um momento de euforia na virada do ano, quando alguns petistas estrelados chegaram a cogitar a possibilidade de vitória no primeiro turno, o partido considera que a sucessão presidencial de 2022 será uma das mais acirradas da história recente. Diante dessa constatação e da recuperação de Bolsonaro, Lula e seus conselheiros pretendem fazer uma série de ajustes na campanha a fim de reduzir a vantagem do rival nas redes sociais, atrair o eleitor de centro e avançar no diálogo com setores importantes do PIB, que ensaiaram abandonar o ex-capitão, mas pararam no meio do caminho.
Os desafios de Lula se dividem em duas partes. Uma delas é caseira. A fim de reforçar o discurso de que tentará formar uma frente ampla em defesa da democracia, o presidente ampliará a sua coordenação de campanha, abrindo espaços para integrantes de outros partidos, como o PSB do ex-governador Geraldo Alckmin, seu candidato a vice, e a Rede da ex-ministra Marina Silva, que ainda não declarou seu apoio pessoal ao petista. Cogita-se ainda trazer para o grupo pessoas sem filiação partidária mas com forte atuação na sociedade — de preferência, aquelas com capacidade de reduzir as restrições ao PT em nichos específicos do eleitorado.
Na seara caseira, outra prioridade é deflagrar, com certa urgência, uma ofensiva para conter danos nas redes sociais. Há o entendimento de que Bolsonaro ganhará de novo a batalha nesse terreno. E há o temor de que a vitória seja tão esmagadora quanto a de 2018. Daí a preocupação em ampliar e tornar mais aguerrida a militância digital petista — se não para empatar o jogo, pelo menos para não perder de muito. Resultado de uma disputa por dinheiro e poder, a reestruturação da equipe de comunicação da campanha também é reflexo do reconhecimento da fragilidade petista no universo digital.
As missões mais prioritárias, no entanto, miram o público externo. Até aqui, Lula falou basicamente para simpatizantes e pregou para convertidos. Chegou a hora, dizem os petistas, de ele sair do cercadinho e discursar para os eleitores de centro e da centro-direita. E de evitar declarações atrapalhadas do ponto de vista eleitoral, como as críticas à classe média brasileira. O plano é deixar de lado pautas caras ao partido, como a regulação da mídia, e concentrar energia em assuntos que afetam diretamente o humor e o bolso dos eleitores, como inflação, emprego e renda. Comida no prato e gasolina barata. Afinal, a economia decidirá a eleição.
Entra aí outro desafio crucial: atrair setores importantes do PIB. Não será fácil. Lula costuma rebater as suspeitas sobre qual será a sua política econômica dizendo que governou o país por oito anos. Bastaria ver o que ele fez — na versão do ex-presidente, ele teria promovido crescimento econômico com inclusão social, redução da desigualdade e responsabilidade fiscal. Confrontados com esse argumento, os donos do dinheiro lembram que a sucessora de Lula, a petista Dilma Rousseff, adotou o intervencionismo econômico e jogou o país na maior recessão de sua história. As dúvidas, portanto, seriam pertinentes. Ainda não está claro como o ex-presidente tentará dissipá-las. Por enquanto, ele descartou a ideia de reeditar uma Carta ao Povo Brasileiro.
Além de liderar em intenções de voto, Lula tem uma rejeição menor do que a de Bolsonaro: 43% para um e 60% para outro, segundo a XP/Ipespe. Políticos e especialistas costumam repetir que esta será uma eleição de rejeição, em que o eleitor não escolherá por empolgação, mas para ungir o menos pior. O Lula de 2022 nem precisa ser o “paz e amor” de 2002. Para vencer, basta fazer com que o antibolsonarismo continue a predominar entre os eleitores, como sugerem as pesquisas, sobre o antipetismo.
Veja.com
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