segunda-feira, maio 05, 2014

A SUCESSÃO CEARENSE EM CINCO TÓPICOS, através da Análise de Fábio de Campos

Jornalista faz uma análise precisa dos fatos
1. PALAVRAS A BALBUCIAR
O PMDB fez as malas e deixou Cid Gomes. Para o partido, foi bom enquanto durou. Afinal, por um lado, lucrou com os benefícios das capitanias ocupadas durante longos sete anos e quatro meses. Por outro, não carregou na bagagem de despedida os desgastes que marcam a gestão estadual. Estes pertencem ao Governo.
O próximo passo do PMDB é exercitar um discurso de oposição. Não será fácil. Eunício Oliveira terá que balbuciar suas primeiras palavras de crítica ao Governo e ao governador que serviu. Se não o fizer, será visto pelo eleitorado como um candidato etéreo, sem rosto, sem posição. Um nada.

O toque de retirada entoado pelo PMDB oferece contornos mais nítidos para o quadro eleitoral de 2014. Do jeito que as coisas se desenham, a disputa para os cargos de governador, vice-governador e senador repetirá o cenário de 2010, com três ou mais candidaturas competitivas apresentadas como opção para o eleitor.

Mas, há diferenças fundamentais em relação a 2010. Uma: Cid Gomes (e nenhum outro Gomes) não será candidato a cargo majoritário. Outra: os nomes que se colocam no campo da oposição foram reforçados pela conjuntura e, portanto, possuem mais consistência do que os de 2010. Mais uma: a saída do PMDB e do PSB fez um rombo no latifúndio governista no horário gratuito.

2. O SONHO DA CONJUNTURA PERFEITA
Apegado ao seu modo de fazer política, o governador não se dedicou a construir uma candidatura com antecedência. Certamente, apostou todas as fichas numa conjuntura favorável que lhe permitisse voar em céu de brigadeiro e fazer o sucessor.

Acerca de Eunício Oliveira, por exemplo, dez entre dez interlocutores do governador, além do próprio, nutriam a certeza de que este não levaria adiante a sua pretensão de se candidatar ao Governo. A coisa toda se resolveria em Brasília, a partir de um chamado da presidente Dilma Rousseff.

Não só os cidistas apostavam nisso. O petismo ligado ao deputado federal José Nobre Guimarães era, à boca miúda, um notório divulgador dessa tese. Enfim, sonhava-se com um mundo perfeito onde todos permaneceriam juntos no Ceará. A eleição seria assim um agradável passeio para os aliados. Nada disso.

O governador enfrenta dificuldades bem maiores do que supunha. Veio a candidatura de Eduardo Campos obrigando-o a sair do PSB e se abrigar no guarda-chuva prosaico. Veio o movimento do PMDB esfarelando o mundo perfeito de 14 partidos na aliança. Veio a sequência de desgastes que afetam a candidatura de Dilma.

3. OS PALANQUES DA OPOSIÇÃO
Embora tudo se espere do PMDB, é improvável um recuo de Eunício. O senador já avançou muito em seu intuito. Além disso, encabeça as pesquisas de opinião, tem estrutura partidária, tempo de televisão e, é claro, indiscutível suporte financeiro para a campanha. 

É ele o único entre os pré-candidatos com mandato assegurado até 2018. Ou seja, não tem nada a perder.
O PR de Roberto Pessoa já trabalha a sua candidatura abertamente em todo o Ceará. A que parece, sairá fortalecida pela dobrada com o PSDB de Tasso Jereissati, que deverá concorrer ao Senado Federal, fortalecendo o palanque de Aécio Neves a presidente da República.

Anotem o nome de Nicolle Barbosa, do PSB, controlado novamente pelos irmãos Novais numa parceria com a Rede de Marina Silva. Oriunda do CIC, a empresária caiu nas graças de Eduardo Campos. E é aí que está a sua força. Se a chapa Campos-Marina subir, Nicolle sobe junto.

E a candidatura governista? A falta de uma decisão mais planejada e amadurecida, a difícil fórmula para unir a base, a existência de vários nomes dentro do Pros e a divisão de preferências internas entre os irmãos Gomes embaralha e traumatiza o processo no Palácio da Abolição.

Em tal cenário, não é difícil imaginar que a eleição precisará de dois turnos para apresentar um vencedor.

4. UMA FACA DE MUITOS GOMES
Com base no apurado das avaliações que vicejam no mercado político, vamos a alguns pontos para explicar a lógica que, no momento, rege o Pros. Uma unanimidade: a decisão será familiar. Ou seja, os irmãos Gomes é que batem o martelo. Mas, nota-se que as preferências entre eles estão diluídas.
Ivo Gomes trabalha abertamente para Izolda Cela, sua companheira de trabalho na educação de Sobral e do Estado e, ainda por cima, esposa de Veveu Arruda, o petista-cidista a quem o deputado Ivo pretende suceder em Sobral como prefeito em 2016.

Ciro Gomes dispõe de três opções. Pela ordem de preferência: Leônidas Cristino, Mauro Filho e Zezinho Albuquerque. São três velhos amigos de geração política e administrativa. Ciro, é claro, trabalhará para emplacar um companheiro de sua confiança.

Mas, é o governador Cid Gomes quem tem mais motivos para fazer um sucessor que não destrua ou se aproprie de seu legado. Esfinge, introspectiva, a cabeça do governador é a mais difícil de ser lida. Porém, com base na sequência de acontecimentos, não seria arriscado afirmar que Cid pode bandear-se para o lado de Domingos Filho.

Foi Domingos o escolhido pessoalmente por Cid para ser o seu vice. Antes, em 2006, foi o então deputado que trabalhou com ardor para colocar o PMDB no palanque de Cid, que, naquele momento, era um concorrente com poucas chances de bater o bem avaliado governador Lúcio Alcântara.

Mas, e os episódios recentes dando conta do suposto desconforto do governador com Domingos? Os dias seguintes àquela reunião emitiram alguns sinais. O principal: em visita ao O POVO, Cid tanto desmente abalos com Domingos como reafirma que o vice se mantém no páreo entre os pré-candidatos.

Por fim, na mesma entrevista, Cid ainda culpou terceiros pelos supostos problemas na relação ao dizer o seguinte: “estão querendo fazer intriga” (entre ele e Domingos). Dias depois, na data em que fazia 51 anos, o governador saiu de Sobral para Tauá. Foi participar de uma festa político-familiar preparada por Domingos. São sinais consideráveis.

5. A LÓGICA DA DECISÃO
E então, como se definirá o candidato governista? Eis a questão. É bem possível, e até provável, que os Ferreira Gomes adotem o tradicional estilo de escolha entre si e arrisquem a eleição com base tão somente na aprovação da gestão de Governo, que dizem ir muito bem obrigado.

Outra hipótese é ouvir os demais partidos parceiros, as pesquisas quantitativas e qualitativas e, como já tratei aqui, escolher a candidatura que reúna as melhores condições de vencer o pleito sem ampliar o risco iminente. É a lógica de escolha mais racional e política.

Outro ponto: o PT será peça fundamental na montagem do Governo. O Pros ficou muito dependente dos minutos na televisão e dos votos do Partido dos Trabalhadores. Tem ainda o imbróglio do Senado a ser resolvido que pode desarrumar o casamento pros/petista.

Como dentro do Pros existem preferências e intenções, mais não existem ainda decisões e nem vetos aos pré-candidatos, o certo é que o resultado da equação para ampliar as possibilidades de êxito do candidato governista terá que levar em conta o maior potencial de chances de vitória que o nome agregar.
Fonte: Jornal O Povo

Um comentário:

Anônimo disse...

Empresários cearenses distribuem adesivos "Fora Dilma"
FELIPE PATURY
14/04/2014 09h00 - Atualizado em 14/04/2014 13h33
Kindle
inShare
6
Adesivos com os dizeres "Fora Dilma" no Ceará (Foto: Reprodução)
Adesivos com os dizeres "Fora Dilma" no Ceará.
Começaram a circular no Ceará adesivos para carros com os dizeres “Fora Dilma e leve o PT junto”. Os responsáveis são um grupo de empresários que mandaram imprimir 50 mil adesivos para distribuir no Estado governado por Cid Gomes (Pros), aliado da presidente.